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Otelo Saraiva de Carvalho | |
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Nascimento | 31 de agosto de 1936 Maputo (África Oriental Portuguesa) |
Morte | 25 de julho de 2021 Lisboa |
Cidadania | Portugal |
Ocupação | político, militar |
Prêmios |
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Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho MSMM • GCL • MPCE (Lourenço Marques, Conceição, 31 de agosto de 1936 – Lisboa, Lumiar, 25 de julho de 2021) foi um coronel de artilharia português, tendo sido o principal estratega do 25 de Abril de 1974.
Responsável pelo setor operacional da Comissão Coordenadora e Executiva do Movimento dos Capitães, elaborou o plano de operações militares do 25 de Abril de 1974. Dirigiu, além disso, as operações com outros militares, a partir do posto da Pontinha, no Regimento de Engenharia n.º 1, onde esteve em permanência desde o fim da tarde de 24 de abril até ao dia 26 de abril de 1974.
Depois da revolução, foi nomeado comandante da Região Militar de Lisboa, e Comandante do COPCON, com polémica atuação durante o Processo Revolucionário em Curso.
Pertenceu ao Conselho dos 20 e ao Conselho da Revolução, e é considerado um dos elementos mais carismáticos do Movimento das Forças Armadas.
Nos anos 1980, foi acusado de ter participado da luta armada em prol da revolução proletária como membro da organização terrorista Forças Populares 25 de Abril, tendo sido condenado a 15 anos de prisão por associação terrorista em 1986.[1] Otelo sempre negou essa participação.[2] Em 1991, Otelo recebeu indulto por seus crimes, que foram amnistiados em 2004.[3][4]
Otelo Nuno nasceu a 31 de agosto de 1936 em Lourenço Marques, Moçambique (hoje Maputo). Os seus pais foram Eduardo Saraiva de Carvalho (Lisboa, Santos-o-Velho, 9 de agosto de 1912[5] - 29 de setembro de 1969), funcionário dos CTT em Lourenço Marques, e sua mulher Fernanda Áurea Pegado Romão (Goa, Goa Sul, Salcete, Margão, 30 de novembro de 1917 - Lisboa, 1981), ainda com alguma ascendência goesa católica,[6] casados em Lourenço Marques, Conceição, a 7 de Julho de 1934. Tinha uma irmã um ano mais velha, Manuela, e uma irmã quatro anos mais nova, Gabriela.[7]
Embora pretendesse abraçar a carreira de teatro, seguindo o exemplo do seu avô paterno,[8] falecido antes de ele nascer, razão pela qual recebera o nome de Otelo, foi seduzido por uma conceção de honra e lisura militar, sem "cunhas" e baseada na coragem e no mérito, por influência do seu avô materno, a ingressar no exército.[9][7]
Iniciou a sua formação como cadete-aluno em 1955, na então Escola do Exército (mais tarde Academia Militar), embora anteriormente, aos dezoito anos, tivesse sido reprovado por "não ter qualquer vocação militar" quando integrou as milícias da Mocidade Portuguesa no Liceu de Lourenço Marques (o que era obrigatório à época).[9]
Em 1959 termina o curso e é promovido a aspirante a oficial, fazendo o tirocínio na Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas, até Agosto de 1960.[9]
Embora não muito politizado, entusiasma-se com António Sérgio como figura da oposição, e sobretudo com Humberto Delgado, o "General sem Medo", e toma contacto, devido a uma viagem a Paris, França, com as ideias de libertação dos países africanos francófonos.[9][7]
É promovido a alferes do Quadro Permanente do Exército (QPE) em novembro de 1960. Em 1961, estala a Guerra Colonial, e embarca para Luanda na sua primeira comissão em África a 3 de junho de 1961, como alferes de Artilharia em Angola, de 1961 a 1963. Cedo compreende a face negra do colonialismo português, muito diferente da propaganda na Metrópole, e conhece de longe o (na altura) tenente-coronel de Cavalaria António de Spínola, segundo Otelo homem de grande crueldade, com quem se cruzará várias vezes ao longo da História.[9]
Em 1963 foi nomeado a contragosto instrutor da Legião Portuguesa,[10] milícia marcadamente fascista e conhecida pelo apoio que prestava à PIDE. Esteve nessa posição durante dois meses, algo que considerou mais tarde que lhe permitiu "contactar com a realidade do corporativismo fascista e a sua sustentação junto dos pequenos funcionários".[9]
Em agosto de 1965, já Capitão de Artilharia, parte para a sua segunda comissão em Angola, onde é colocado em Mucaba, apenas voltando a Lisboa em setembro de 1967.
Entre 1967 até cerca de 1968 foi professor na Escola Central de Sargentos em Águeda.
A 16 de setembro de 1970 é colocado na Guiné, na sua terceira e última comissão, no Quartel-General do Comando Chefe, para substituir um capitão morto no desastre de helicóptero que também vitimara três deputados da Ala Liberal em visita à Guiné. O seu posto é de chefe da Secção de Radiodifusão e Imprensa da Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, repartição liderada por Lemos Pires, e, nessa capacidade, pôde ver a guerra do lado dum Quartel General, depois de duas comissões "no mato". Nesse período Spínola, agora general, é Comandante-Chefe da Forças da Guiné. Otelo muda em breve para a Secção de Ação Psicológica, Subsecção de Operações Psicológicas, em Forte de Amura.
Em junho de 1971 é nomeado para a direção do Centro de Informação e Turismo da Guiné, cargo de que é demitido pouco tempo depois por Spínola.[9] No mesmo ano de 1971 organiza o Congresso do Povo da Guiné, ao mesmo tempo que se emociona com a leitura do programa do PAIGC, e conhece Rafael Barbosa, um dos fundadores do mesmo, de quem fica com excelente impressão. Ao longo desta comissão, a sua consciência política e o seu desgosto pela guerra colonial aumentam enormemente.[9]
As suas primeiras atividades de contestação ao regime deram-se por ocasião da preparação do Congresso dos Combatentes do Ultramar (que teve lugar de 1 a 3 de junho de 1973, no Porto). Exigiu, junto com os outros oficiais em Bissau, a participação de oficiais do Quadro Permanente, participando na recolha de cerca de 400 assinaturas de um documento em que declaravam, basicamente, que o congresso não os representava. Em paralelo, houve várias ações em Lisboa encabeçadas por Ramalho Eanes, Hugo dos Santos e Vasco Lourenço.[9]
Foi depois um dos principais dinamizadores do movimento de contestação ao Decreto Lei nº 353/73, que deu origem ao Movimento dos Capitães que depois se transformou em MFA. Esse decreto faria entrar para o quadro permanente das Forças Armadas, como capitães ou majores, muitas pessoas com uma qualificação e tempo de aprendizagem muito inferiores às dos oficiais do quadro na altura, o que levou a um grande descontentamento da maioria dos elementos do quadro. Em Bissau foi, portanto, criada a Comissão do Movimento dos Capitães (CMC), em que Otelo teve um papel de relevo, tendo angariado 51 assinaturas e as enviado para a Metrópole, e fazendo uma exposição ao Ministro do Exército, no dia 7 de setembro de 1973. Reunidos em Évora, 136 capitães assinam um documento semelhante, seguindo o exemplo da Guiné, seguidos por 94 em Angola e 106 em Moçambique. Em resumo, a contestação foi tal que esse decreto foi revogado (e um seguinte, que "resolvia" o problema dos majores), mas, como diz Otelo no seu livro Alvorada em Abril, o movimento já estava lançado.[9]
Acabada a comissão na Guiné, em 1 de Setembro de 1973 Otelo é promovido a major, passando a ter uma grande ligação com os outros membros do Movimento dos Capitães em Lisboa, enquanto ingressa na Academia Militar como professor adjunto de Tática de Artilharia, a 15 de novembro de 1973. Participa num sem-número de reuniões, que acontecem em sua casa, ou nas casas de Vasco Lourenço, Diniz de Almeida, Hugo dos Santos, Mariz Fernandes, Vítor Alves, Luís Macedo e Pinto Soares. A 1 de dezembro de 1973, há um plenário mascarado de confraternização em Óbidos, e é criado o MOFA (Movimento de Oficiais das Forças Armadas, cujo nome, por razões óbvias de sigla, mudaria para MFA alguns dias antes do 25 de Abril por sugestão de Spínola). Otelo é um dos militares pertencentes à direção.[9]
Mesmo assim, nessa altura, o Movimento ainda tinha como principal objetivo garantir o prestígio das Forças Armadas. A situação agudizou-se com os incidentes em Vila Pery, em Moçambique, a 14 de janeiro de 1974, em que o exército foi insultado pela população, o que levou a muita comoção tanto no exército como nos meios de comunicação estrangeiros. Nessa altura, estava a preparar-se um programa do movimento. Um primeiro esboço foi da autoria de José Maria Azevedo, mas, no dia 6 de fevereiro de 1974 foi considerado insuficiente, e uma comissão de redação foi nomeada, com os nomes de Costa Brás, Melo Antunes, José Maria Azevedo e Sousa e Castro. No dia 5 de março, surge novo documento político do ainda MOFA, que foi continuando a ser trabalhado principalmente por Melo Antunes, coadjuvado, entre outros, por Martins Guerreiro, Almada Contreiras, e Vítor Alves,[11] que o entregava a Otelo para o mostrar a Spínola e receber retorno deste.[12] O documento político final foi apresentado a Otelo e aos outros no dia 20 de abril de 1974.[9]
Após o fracasso da intentona das Caldas de 16 de março de 1974, em que vários militares seus companheiros foram presos, e Otelo não o foi por um triz, tomou a seu cargo desenhar o plano militar de operações que deu origem ao golpe militar de 25 de Abril, sendo, portanto, o estratega indiscutível da Revolução de 25 de Abril de 1974.[13][14] De facto, tanto Vítor Alves como Hugo dos Santos discordavam do plano, mas anuíram. Otelo Saraiva de Carvalho acreditava no sucesso em 12 horas com uma probabilidade de 80%. Além de ter feito inúmeros contactos com antigos colegas e conhecidos, também distribuiu, na tarde do dia 23, os aparelhos de rádio necessários para assegurar as transmissões dos revoltosos.[9]
Otelo teve uma grande atividade de contactos e troca de informações com muitos elementos das Forças Armadas. No que se refere à Marinha, Almada Contreiras menciona passeios de trabalho ao longo do passeio de Santa Apolónia durante vários meses antes do 25 de Abril.[15]
Responsável pelo setor operacional da Comissão Coordenadora do MFA, foi ele quem dirigiu as operações do 25 de Abril, a partir do posto de comando clandestino instalado no Quartel da Pontinha, de 24 a 26 de abril de 1974.[16][17] Foi, portanto, além do estratega, um dos Comandantes Militares do 25 de Abril.
Entre as várias decisões que teve de tomar, junto com os outros militares ali presentes (Sanches Osório, Fisher Lopes Pires, Vítor Crespo, Garcia dos Santos, Luís Macedo e outros que foram chegando),[18] esteve a aceitação de que fosse Spínola a receber o poder das mãos de Marcelo Caetano, em vez de alguém do MFA. Spínola telefona diretamente a Otelo, que põe a questão aos outros que lá estavam, incluindo Vítor Alves e Franco Charais. Otelo autoriza Spínola a representar o MFA (com a conivência dos presentes), algo pelo qual vem a ser criticado mais tarde por outros elementos do MFA, como por exemplo Vasco Lourenço.[19]
Otelo também seguiu de perto os acontecimentos do Largo do Carmo, tendo sido ele que escreveu a ordem manuscrita para que Salgueiro Maia iniciasse o fogo contra o Quartel do Carmo.[20]
Os acontecimentos, hora por hora, do dia 25 de abril de 1974 foram contados por Otelo Saraiva de Carvalho no seu livro intitulado O dia inicial: 25 de Abril hora a hora, além do que já tinha sido referido em Alvorada em Abril.[21] Também protagonizou um filme a contar essa noite.[22]
Um dos poucos objetivos do rascunho do Plano Geral de Operações do 25 de Abril que não foi atingido, aliás com consequências funestas, foi a tomada da PIDE/DGS por um grupo de comandos, devido à recusa de Jaime Neves de a tentar, o que levou à alteração do Plano final, e a variadas démarches no seio das Forças Armadas afetas ao 25 de Abril.[23][24]
Após o 25 de Abril, Otelo pretende voltar à sua vida normal de professor, mas os acontecimentos do país precipitam-se, e é chamado pelos outros elementos do MFA a tomar parte nas decisões e no futuro do país.[25] Em junho de 1974, por iniciativa de Spínola (presidente da República), foi graduado em Brigadeiro, e nomeado Comandante-Adjunto do COPCON (Comando Operacional do Continente),[26] sob a dependência direta do General Francisco da Costa Gomes, então Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas. Além disso, foi nomeado também Comandante da Região Militar de Lisboa, tomando posse a 13 de julho de 1974.
Passou a exercer na prática o comando efetivo do COPCON desde setembro de 1974.
Otelo foi convocado por Spínola ao palácio de Belém na véspera, tendo lá ficado "preso" até que pôde ir para o COPCON às 3 da manhã. De acordo com Vasco Lourenço,[19] foi este que tratou da resistência ao golpe, e que conseguiu forçar a volta física do Otelo ao COPCON, com um ultimato de que senão o MFA atacaria Belém.
A 11 de março de 1975, houve um golpe spinolista para tomar conta do poder, marcado por grande desorganização nas forças armadas, que resultou no assalto ao RALIS pelos paraquedistas militares, rapidamente neutralizado.[19]
Em março de 1975, Otelo foi graduado em General de Divisão e passou a ser comandante do COPCON a 23 de junho de 1975.[6]
Fez parte do Conselho da Revolução desde que este foi criado, a 14 de março de 1975, até dezembro de 1975. A partir de 30 de julho do mesmo ano integra, com Costa Gomes e Vasco Gonçalves, o Diretório, estrutura política de cúpula durante o V Governo Provisório na qual os restantes membros do Conselho da Revolução delegaram temporariamente os seus poderes (mas sem abandonarem o exercício das suas funções).
Segundo o seu biógrafo Paulo Moura,[7]
“ | o seu poder era legal, além de imenso. Antes de começar a perder o controlo de muitas forças, (...), Otelo foi o homem mais poderoso do país. | ” |
Em julho de 1975, é convidado a visitar Cuba e discursa, antes de Fidel Castro, na cerimónia comemorativa do aniversário ao ataque ao quartel de Moncada, em Santa Clara. Segundo Paulo Moura, aí conhece os recém-lançados Grupos Dinamizadores de Ação Popular (GDAP), que o inspiram fortemente (mais tarde lançará os Grupos Dinamizadores de Unidade Popular (GDUP)), ao contrário da relação com o Partido Comunista Português, que os dirigentes cubanos sugerem a Otelo para Portugal. Além disso, ainda segundo este biógrafo, pedem a Otelo que transmita a Costa Gomes a pergunta sobre intervenção cubana em Angola e apoio ao MPLA, ou se deverá ser Portugal a fazê-lo.[7]
Por ocasião dos acontecimentos do Verão Quente, também ficou célebre a carta escrita por Otelo a Vasco Gonçalves: «Agora, companheiro, separamo-nos (...) Peço-lhe que descanse, repouse, serene, medite e leia»[27]
Segundo Otelo, foi Otelo que sugeriu Pinheiro de Azevedo como primeiro-ministro para o VI Governo Provisório, após ter recusado a sugestão de Vasco Gonçalves de ser ele próprio.[7] Mas foi Pinheiro de Azevedo, junto com o Grupo dos Nove, que foi tirando progressivamente o poder das mãos de Otelo, por exemplo, ao criar o Agrupamento Militar de Intervenção (AMI), para diminuir o poder do COPCON.
Depois do ultimato feito a Costa Gomes pelo VI Governo Provisório, em novembro de 1975, Costa Gomes substitui Otelo por Vasco Lourenço na chefia da Região Militar de Lisboa. Otelo é naturalmente contra, mas aceita a despromoção. Mas os paraquedistas ocupam umas bases aéreas, exigindo a demissão do Chefe do Estado-Maior da Força Aérea. Este acontecimento marca o início do Golpe de 25 de Novembro de 1975, que rapidamente acabou por ser neutralizado por um grupo militar liderado por Ramalho Eanes.[28]
Segundo alguns intervenientes, foi Otelo que deu a ordem para os paraquedistas ocuparem as bases da Força Aérea. Diniz de Almeida, mais tarde, diz que quem deu a ordem foi Arlindo Dias Ferreira, mas que Otelo anuiu.[29]
Após o 25 de Novembro, o COPCON é extinto.
Otelo, que representava a ala mais radical do MFA, como aliás se pode ver na sua entrevista à RTP de 10 de novembro de 1975,[30] viria a ser preso, mas é solto três meses mais tarde.[7]
Participa na criação dos GDUP, Grupos Dinamizadores de Unidade Popular, à imagem do que Otelo vira em Cuba. Formaram-se GDUP por todo o país, e foram apoiantes da candidatura de Otelo à Presidência da República.
Nas primeiras eleições presidenciais livres após a ditadura do Estado Novo, em 1976, Otelo candidatou-se com um programa de democracia popular e direta, e obteve 16,5% dos votos, obtendo a maior votação no Distrito de Setúbal, com 41,8%.[6] Embora vencido por Ramalho Eanes, Otelo manteve-se sempre amigo deste.[31]
Depois das presidenciais, voltou a ser militar no ativo, e, por ter participado como observador numa sessão preparatória da criação do MUP - Movimento de Unidade Popular (que nunca chegou a ser criado), e ter proferido declarações aos jornalistas à saída, foi castigado exemplarmente com 20 dias de prisão disciplinar agravada por Rocha Vieira, o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas da altura.
É convidado pela editora francesa Éditions du Seuil a escrever a história do 25 de Abril, mas a editora dá-lhe três meses, e Otelo declara que precisa de nove, virando-se, pois, para uma editora portuguesa.
Em 1977, publica o livro Alvorada em Abril, em edição da Livraria Bertrand, com prefácio "Um Homem do nosso Destino" de Eduardo Lourenço, em que entre outras coisas se pode ler que
“ | Estas páginas desenham em filigrana o retrato de um Otelo antes de outro Otelo e completam assim uma imagem que um excesso de franqueza e mesmo de ingenuidade política que lhe são inerentes reduziu a um estereótipo insignificante, por simplista e malevolente. | ” |
Num novo prefácio a um livro de Otelo, O dia inicial, publicado em 2011,[21] Eduardo Lourenço virá a proclamar este livro "incontornável mas, como acontece quase sempre entre nós, distraidamente lido".
Uma reedição do mesmo livro, em edição limitada em 1974 exemplares numerados e assinados, vem a lume em 2014 pela Editora Divina Comédia.
Em 1980 cria o partido Força de Unidade Popular (FUP) e volta a concorrer às eleições presidenciais de 1980.
Na década de 1980 foi acusado de liderar a organização terrorista Forças Populares 25 de Abril - FP-25,[32] responsável pelo assassinato de 17 pessoas, uma delas um bebé como dano colateral, nos anos 80, incluindo o Diretor-Geral dos Serviços Prisionais Gaspar Castelo Branco, assassinado a tiro a 15 de Fevereiro de 1986, o mais alto dignitário português a morrer no exercício das suas funções no pós-25 de Abril. Detido em 1984, em 1985 foi julgado e condenado em tribunal pelo seu papel na liderança das FP-25 de Abril. Após ter apresentado recurso da sentença condenatória, ficou em prisão preventiva cinco anos,[33] passando a aguardar julgamento em liberdade provisória.[34] Mais tarde acusou o PCP de ter estado por trás da sua detenção e de ter feito com que ficasse em prisão preventiva tanto tempo. Acusou ainda alguns nomes então na Polícia Judiciária, como a Diretora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal, Cândida Almeida, então na PJ, de, devido à militância no PCP, ter estado por trás da sua detenção.[35]
Tendo o tribunal decidido que tinha sido provada a sua ligação com a organização terrorista [36], em 2004 a Assembleia da República aprovou o indulto, seguido de uma amnistia para os presos do Caso FP-25.
Foi Medalha Militar de 2.ª Classe de Mérito Militar e Medalha Militar de Prata de Comportamento Exemplar.
A 25 de novembro de 1983, foi agraciado com o grau de Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.[37][6]
Com Julie Sergeant protagoniza um clipe erótico no programa "Sex Appeal" da SIC, canal onde também teve uma breve aparição numa reconstituição em tempo real comemorativa dos eventos da Revolução.
Em 2011, disse que, se soubesse como o país ia ficar, não teria realizado o 25 de Abril.[38] Otelo lamentava as “enormes diferenças de carácter salarial” que existem na sociedade portuguesa:
“ | Não posso aceitar essas diferenças. A mim, chocam-me. Então e os outros? Os que se levantam às 05h00 para ir trabalhar na fábrica e na lavoura e chegam ao fim do mês com uma miséria de ordenado? | ” |
Para este Capitão de Abril, o que mais o desiludia era que
“ | questões que considerava muito importantes no programa político do Movimento das Forças Armadas (MFA) não terem sido cumpridas. | ” |
Uma delas, que considera "crucial", é
“ | a criação de um sistema que elevasse rapidamente o nível social, económico e cultural de todo um povo que viveu 48 anos debaixo de uma ditadura. Este povo, que viveu 48 anos sob uma ditadura militar e fascista merecia mais do que dois milhões de portugueses a viverem em estado de pobreza." | ” |
Esses milhões, sublinhou, significa que "não foram alcançados os objectivos" do 25 de abril de 1974.
Numa entrevista subsequente, Otelo diz que esta frase dele foi mal compreendida, e que, obviamente, valeu a pena fazer o 25 de Abril.[12]
Oficial do quadro permanente da Arma de Artilharia, foi promovido ao posto de major a 1 de setembro de 1973.
Por portaria de 10 de abril de 1984, foi promovido a tenente-coronel, com efeitos reportados a 21 de novembro de 1980.
Em abril de 1984, em reunião ordinária do Conselho da Arma de Artilharia, integrando o primeiro terço da lista de tenentes-coronéis da arma a promover, foi favoravelmente apreciado como apto à promoção a coronel.
A sua promoção a coronel foi interrompida devido ao seu envolvimento no processo das FP-25. Só em 21 de abril de 2009, foi promovido a essa patente, com antiguidade a 19 de maio de 1986.[39][40]
Morreu de falência cardíaca a 25 de julho de 2021 no Hospital das Forças Armadas, no Lumiar, em Lisboa.[41][42]
Casou em Lisboa, São João de Brito, na Igreja de São João de Brito, a 5 de novembro de 1960, com Maria Dina Afonso Alambre (Lourenço Marques, 6 de Junho de 1936), filha de Bernardino Mateus Alambre e de sua mulher Aida de Jesus Afonso, com a qual teve duas filhas e um filho, duas netas e um neto.[43][6]
Quando esteve preso na Prisão de Caxias, nos anos 80, iniciou um relacionamento com Maria Filomena Morais, uma funcionária prisional divorciada.[43]
Candidato | votos | % |
Ramalho Eanes | 2 967 137 | 61,59 % |
Otelo Saraiva de Carvalho | 792 760 | 16,46 % |
Pinheiro de Azevedo | 692 147 | 14,37 % |
Octávio Pato | 365 586 | 7,59 % |
Candidato | votos | % |
Ramalho Eanes | 3 262 520 | 56,44 % |
Soares Carneiro | 2 325 481 | 40,23 % |
Otelo Saraiva de Carvalho | 85 896 | 1,49 % |
Galvão de Melo | 48 468 | 0,84 % |
Pires Veloso | 45 132 | 0,78 % |
Aires Rodrigues | 12 745 | 0,22 % |
Carlos Brito | desistiu |
Depois da amnistia aprovada, os membros das FP-25 de Abril, incluindo Otelo, ainda seriam julgados no início do século XXI [2004] pelos crimes de sangue que não tinham sido amnistiados. Mas nessa altura os tribunais já não conseguiam provar quem tinham matado quem, nem quem tinha ordenado os homicídios e assaltos em concreto.
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(ajuda). Arquivado do original em 30 de abril de 2004
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