Este artigo ou se(c)ção trata de alguém que morreu recentemente. |
Jorge Sampaio | |
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Jorge Sampaio | |
18.º Presidente da República Portuguesa | |
Período | 9 de março de 1996 a 9 de março de 2006 |
Antecessor(a) | Mário Soares |
Sucessor(a) | Aníbal Cavaco Silva |
Alto Representante para a Aliança das Civilizações | |
Período | 1 de abril de 2007 a 1 de março de 2013 |
Sucessor(a) | Nassir Abdulaziz Al-Nasser |
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa | |
Período | 22 de janeiro de 1990 a 15 de novembro de 1995 |
Antecessor(a) | Nuno Krus Abecasis |
Sucessor(a) | João Barroso Soares |
Secretário-Geral do Partido Socialista | |
Período | 15 de janeiro de 1989 a 23 de fevereiro de 1992 |
Antecessor(a) | Vítor Constâncio |
Sucessor(a) | António Guterres |
Dados pessoais | |
Nome completo | Jorge Fernando Branco de Sampaio |
Nascimento | 18 de setembro de 1939 Lisboa, São Sebastião da Pedreira |
Morte | 10 de setembro de 2021 (81 anos) Oeiras, Carnaxide |
Alma mater | Universidade de Lisboa |
Cônjuge | Karin Schmidt Dias (div.), Maria José Rodrigues Ritta |
Partido | MES (1974) PS (1978–2021) |
Profissão | advogado, político |
Assinatura |
Jorge Fernando Branco de Sampaio GColTE • GColIH • GColL (Lisboa, São Sebastião da Pedreira, 18 de setembro de 1939 – Oeiras, Carnaxide, 10 de setembro de 2021) foi um político português que exerceu o cargo de presidente da República Portuguesa, entre 9 de março de 1996 e 9 de março de 2006.
Filho do médico Arnaldo Sampaio e de Fernanda Bensaúde Branco (filha de Fernando Branco, antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros e da Marinha da Ditadura Nacional (1928-1933), e de sua mulher, Sara Bensliman Bensaúde, esta, por sua vez, sobrinha-neta do industrial de tabacos José Bensaúde, de ascendência judaica). Nasceu na maternidade fundada pelo seu tio-avô, Abraão Bensaúde, na Rua da Beneficência, em Lisboa.[1] Era irmão do psiquiatra Daniel Sampaio.[2]
Viveu com a família em Sintra até aos quatro anos.[1] Em 1944, passa a viver em casa da avó, Sara Bensaúde, e entra para o jardim-escola Queen Elizabeth’s Kindergarten & Junior School, na zona de São Bento, em Lisboa, onde teve como professora a atriz Mariana Rey Monteiro.[3][1] Por imperativo da carreira do pai, que recebe uma bolsa para estudar saúde pública na Universidade Johns Hopkins, muda-se com a família para Baltimore, nos Estados Unidos, em 1947. Frequentou, durante um ano, a escola pública americana e o Conservatório Peabody.[4] Inscreveu-se na YMCA, onde fez estudos musicais e praticou desporto.[5][1]
Em 1949, depois de chumbar no exame de admissão ao Colégio Militar, entra para o Liceu Pedro Nunes, em Lisboa.[1] Em 1952, passa férias em Londres, onde o pai fazia investigação científica, assistindo a um debate na Câmara dos Comuns, experiência que o marcou muito.[1] Em 1953, transfere-se para o Liceu Passos Manuel, também em Lisboa, onde teve como professores José Hermano Saraiva e Joel Serrão e onde conclui os estudos secundários.[1] Em 1956, é admitido na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde se licenciou em 1961.[1] O seu nome encontra-se na lista de colaboradores da publicação académica Quadrante[6] (1958-1962), publicada pela AAFDL.
Após concluir a licenciatura em Direito, inscreve-se na Ordem dos Advogados e inicia a sua carreira profissional como advogado estagiário, no escritório de José Olímpio, terminando o estágio em 1963.[1] Torna-se um advogado especializado em matérias de propriedade industrial, conseguindo vários clientes nacionais e internacionais, daí auferindo rendimentos com vista ao seu sustento.[4] A advocacia levou-o a envolver-se, pro bono, na defesa de presos políticos, sendo convidado por Mário Soares para defender um dos arguidos do caso da Revolta de Beja contra o Estado Novo.[1] Em 1965, vive nos Estados Unidos durante cerca de quatro meses, no âmbito de uma bolsa de Foreign Leader Program, assistindo aos discursos de Edward e Robert Kennedy, que exercem sobre si grande influência, no Senado, em Washington, D. C..[1]
Com Júlio Castro Caldas, juntou-se, em 1977[1], à sociedade de advogados formada na década de 1970 por José Vera Jardim, Jorge Santos e José Macedo e Cunha, dando origem à Jardim, Sampaio, Caldas e Associados, a qual adota, atualmente, a denominação de Jardim, Sampaio, Magalhães e Silva & Associados.[7] Também desempenhou funções diretivas na Ordem dos Advogados.
Iniciou a sua carreira política na altura em que era estudante na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Envolvido na contestação ao regime salazarista, apoiou a candidatura de Humberto Delgado à Presidência da República, embora não pudesse ainda votar[1], e foi presidente da Associação Académica da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em 1959-1960 e em 1960-1961, e secretário-geral da Reunião Inter-Associações Académicas (RIA), em 1961-1962. Foi, nessa qualidade, um dos protagonistas da crise académica do princípio dos anos 60 — início de um longo e generalizado movimento de contestação estudantil, surgido da proibição pelo governo das comemorações do Dia do Estudante (24 de março de 1962), e que teve o seu auge na Universidade de Lisboa, em 1962, e na Universidade de Coimbra, em 1969. Nesse processo, esteve preso três dias na sequência de uma greve de fome na cantina da Universidade de Lisboa.[8]
No contexto das lutas académicas, cria, em 1962, com João Cravinho e outros, o MAR - Movimento de Ação Revolucionária, de esquerda radical, onde também chega a participar Vasco Pulido Valente. Em julho desse ano, a PIDE fez buscas na sua casa, em Sintra, tendo sido interrogado em setembro de 1962.[1][3] A seguir, vai aproximar-se dos católicos progressistas — colabora em O Tempo e o Modo, de António Alçada Baptista e João Bénard da Costa; o mesmo sucede com Vasco Pulido Valente.[9] Antes, publicara artigos na Seara Nova, conotada com a esquerda republicana oposicionista.[10]
Em agosto de 1968, no mesmo mês em que António de Oliveira Salazar sofre uma queda de uma cadeira, conhece Álvaro Cunhal numa viagem a Paris, embora recuse aderir ao Partido Comunista Português (PCP) por se opor à invasão da Checoslováquia.[1] Prosseguindo a sua ação como opositor à ditadura, candidatou-se, nas eleições legislativas de 1969, à Assembleia Nacional, integrando as listas da Comissão Democrática Eleitoral (CDE), que em Lisboa se opunha à CEUD (esta liderada por Mário Soares e com incorporação da Comissão Eleitoral Monárquica).
De resto, desenvolveu uma constante atividade política e intelectual, participando nos movimentos de resistência à ditadura e propugnando ao mesmo tempo uma alternativa democrática de matriz socialista, aberta aos novos horizontes do pensamento político europeu.[11]
Após o golpe de 25 de Abril de 1974, negociou a libertação dos presos políticos em Caxias, lançando também o slogan 25 de Abril sempre.[1] Em maio de 1974, foi fundador do Movimento de Esquerda Socialista (MES). Consta que antes fora sondado para a fundação do Partido Socialista (PS), mas recusara.[3] Apesar do seu papel na fundação do MES, abandonou o projeto logo no primeiro congresso do partido, em dezembro de 1974, alegando discordância de fundo com a orientação ideológica marxista-leninista aí definida.[12]
Em 28 de setembro de 1974, está nas barricadas à volta de Lisboa, destinadas a impedir a chegada da população à manifestação de apoio ao general António de Spínola, mais conhecida como a manifestação da maioria silenciosa.[3] Em março de 1975, sendo ministro dos Negócios Estrangeiros Melo Antunes, é nomeado secretário de Estado da Cooperação Externa do IV Governo Provisório, o terceiro e penúltimo de Vasco Gonçalves, que durou até julho de 1975. Participou, nessa qualidade, nas negociações para a independência de Moçambique.[8][12] Optou por não integrar os governos provisórios seguintes devido à sua proximidade com Ernesto Melo Antunes, sendo uma espécie de agente de ligação entre as instituições democráticas e a ala moderada do Movimento das Forças Armadas (MFA) e um ativo apoiante das posições do Grupo dos Nove.[8] A seguir ao 25 de novembro de 1975, é um dos fundadores da Intervenção Socialista, um grupo constituído por políticos e intelectuais que se dedica à reflexão política, defendendo uma terceira via de aliança entre o PS e o PCP.[12][1]
À semelhança de outros antigos militantes do MES (casos de Eduardo Ferro Rodrigues e Augusto Mateus, por exemplo), viria a aderir ao Partido Socialista, em 1978, ano em que a Intervenção Socialista é absorvida pelo PS.[1] Ainda em 1978, liderou a delegação portuguesa às conversações para a cooperação com Moçambique.[8] Assim, é já na bancada socialista que se estreia como deputado à Assembleia da República, na sequência das eleições legislativas de 1979. Por designação da Assembleia, entre 1979 e 1984, foi membro da Comissão Europeia para os Direitos Humanos, onde desempenhou um papel ativo. Entre 1979 e 1980, foi membro do Secretariado Nacional do PS. Entre 1986 e 1987, foi responsável pelas Relações Internacionais do PS e, entre 1986 e 1988, foi presidente do Grupo Parlamentar do PS. Em março de 1988, foi eleito membro do Conselho de Estado, órgão consultivo do presidente Mário Soares, pela Assembleia da República, durante a legislatura 1987-1991.[8]
A 16 de janeiro de 1989, na sequência da demissão de Vítor Constâncio, concorre a secretário-geral do PS, derrotando Jaime Gama e assumindo essas funções.[1] Exerce também as funções de copresidente do Comité África da Internacional Socialista.[8] Em 1989, depois de falhar em nomear um candidato à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, assume ele próprio a posição de cabeça de lista à CML e obtém aquele que será, provavelmente, o feito político mais marcante na sua carreira, ao liderar uma histórica coligação entre o PS e o PCP, à Câmara Municipal de Lisboa, nas eleições autárquicas desse ano. Essa união faz com que consiga derrotar o candidato da coligação PSD/CDS-PP/PPM, Marcelo Rebelo de Sousa, com 49,07% dos votos e 9 vereadores (em 17), contra 42% do adversário. Toma posse a 22 de janeiro de 1990, mantendo o cargo de secretário-geral do PS, e opta por distribuir pelouros aos vereadores da coligação de centro-direita, embora apenas os vereadores do CDS e do PPM aceitem.[1] O sucesso da coligação ditaria que nas autárquicas seguintes, em 1993, continuasse o projeto de coligação, agora ampliado à União Democrática Popular (UDP) e ao Partido Socialista Revolucionário (PSR); o que veio a suceder, permitindo a reeleição de Sampaio, com 56,66% dos votos e 11 vereadores (em 17), contra os 26,4% do candidato do PSD, Macário Correia.[1] Este foi o melhor resultado de sempre obtido por um candidato à Câmara lisboeta.[12] Por inerência das funções de presidente da Câmara Municipal de Lisboa, é eleito presidente da Federação Mundial das Cidades Unidas, do Movimento Eurocidades e da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa; vice-presidente da União das Cidades Capitais Ibero-Americanas; dirigente do Comité das Regiões da União Europeia; e vice-presidente da Junta Metropolitana de Lisboa.[8][1] Durante o seu mandato, Lisboa foi Capital Europeia da Cultura, em 1994, e deu-se início à reconversão urbanística da parte oriental da cidade, com vista à realização da Expo 98[1]. Foi executado o Programa Especial de Realojamento, uma iniciativa do governo central, liderado por Aníbal Cavaco Silva, tendo em vista a eliminação das áreas urbanas de génese ilegal, e foi aprovado, em 1994, o primeiro Plano Diretor Municipal da cidade.
Entretanto, nas eleições legislativas de 1991, suspende o mandato na Câmara Municipal de Lisboa em agosto de 1991 e lidera a candidatura do PS, mas é derrotado, com 29,1% dos votos, pelo PSD, liderado por Aníbal Cavaco Silva, que obtém 50,6% dos votos. Nessa sequência, é também derrotado no X Congresso do PS, em fevereiro de 1992, por António Guterres, que se candidata a secretário-geral do PS e vence. Abandona assim as funções de secretário-geral do PS, mantendo a presidência da Câmara Municipal de Lisboa.[1]
Em julho de 1995, anunciou a sua candidatura à Presidência da República, à revelia do PS, que só o apoiaria posteriormente, e demite-se da presidência da Câmara Municipal de Lisboa em novembro de 1995.[1] Ganhou a eleição de 14 de janeiro de 1996 logo na primeira volta, com 53,91% dos votos, após as desistências a seu favor de Jerónimo de Sousa (PCP) e Alberto Matos (UDP), contra Aníbal Cavaco Silva, o anterior primeiro-ministro, que obteve 46,09% dos votos.
Tomou posse deste cargo a 9 de março de 1996, para um mandato de cinco anos (1996-2001). Com a eleição de Jorge Sampaio concretiza-se, pela primeira vez desde o 25 de Abril de 1974, um cenário político marcado por um governo e um Presidente da República da mesma família política, o que se manteve entre 1995 e 1999, com o XIII Governo Constitucional, e de 1999 a 2002, com o XIV Governo Constitucional, ambos minoritários e liderados por António Guterres.[13] Em 1996, sofreu duas intervenções cirúrgicas ao coração, no Hospital de Santa Cruz - uma em abril, em que foi detetada uma malformação cardíaca, e outra em julho, em que foi declarado o seu impedimento temporário pelo Tribunal Constitucional, sendo as suas funções asseguradas pelo então presidente da Assembleia da República, António de Almeida Santos. Em 2000, é submetido a nova intervenção cirúrgica para retirar uma hérnia inguinal e para corrigir uma fibrilhação auricular. No mesmo ano, chega a cancelar uma deslocação a Timor-Leste, a primeira após o refernedo à independência, devido a uma pneumonia contraída durante uma partida de golfe, na ilha de Coloane, em Macau.[1][4]
Ao longo dos seus dois mandatos, utilizou o veto político num total de 75 vezes, em domínios de natureza diversificada, da lei das vagas adicionais, em dezembro de 1996, passando pelas portagens do Oeste, em 1998, ou o casino do Parque Mayer, em 2002. Alguns dos diplomas vetados por Sampaio revestiram-se de polémica, como foi o caso da lei do ato médico, em setembro de 1999, da lei-quadro dos novos municípios, em 2003, ou da lei de descriminalização do consumo de droga, em 2000, que, antes de ser promulgada com vista à redução de danos e reinserção social dos toxicodependentes, foi primeiro vetada por não terem sido auscultadas as assembleias legislativas regionais, levando o PSD a exigir um referendo sobre a matéria.[14][15] A promulgação da Lei de Programação Militar, em 2001, apesar das suspeitas de inconstitucionalidade por alegada falta de quórum da Assembleia da República no momento da sua aprovação, revestiu-se também de polémica, tendo recebido fortes críticas.[1]
Durante os seus mandatos presidenciais, atribuiu 2374 condecorações das ordens honoríficas portuguesas, sendo o 2.º presidente da República, atrás de Mário Soares, a ter atribuído mais condecorações,[16] entre as quais algumas que viriam a ser retiradas aos titulares na sequência de processos judiciais. Foram os casos de Carlos Cruz - condecorado em 2000 e irradiado da Ordem do Infante D. Henrique na sequência da sua condenação no Processo Casa Pia[17] - e de Armando Vara - condecorado em 2005 pela sua participação na organização do Campeonato Europeu de Futebol em Portugal e irradiado da Ordem do Infante D. Henrique na sequência da sua condenação no Processo Face Oculta.[18] Num ato inédito, condecorou os membros da banda U2, aquando da sua atuação em Portugal, em agosto de 2005, com a Ordem da Liberdade, pela sua dedicação às causas humanitárias, nomeadamente à defesa do povo de Timor-Leste contra a ocupação da Indonésia, matéria que lhe mereceu atenção enquanto presidente da República.[19]
Cessou o seu mandato presidencial a 9 de março de 2006. As suas intervenções presidenciais foram reunidas em seis volumes, sob o título Portugueses (I, II, III, IV, V e VI), estando o seu pensamento também publicado nos livros A Festa de Um Sonho (1991), Um Olhar sobre Portugal (1995) e Quero Dizer-vos (2000).[8]
Conviveu com quatro primeiros-ministros diferentes: António Guterres, José Manuel Durão Barroso, Pedro Santana Lopes e José Sócrates.
A sua ação privilegiou os aspetos sociais e culturais. No domínio económico, impulsionou a criação da COTEC Portugal e criou, ainda em 1996, um Conselho Económico com vista a condicionar a política económica e orçamental do governo de António Guterres, sendo o órgão constituído por José da Silva Lopes, Miguel Beleza, Teodora Cardoso, Fernando Teixeira dos Santos, Vítor Bento, António Nogueira Leite e Augusto Mateus.[4]
Foi reeleito presidente da República em 14 de janeiro de 2001, com 55,5% dos votos, contra os 34,7% do candidato apoiado pelo PSD, Joaquim Ferreira do Amaral, para um mandato de cinco anos (2001-2006).[1] Pouco antes da sua tomada de posse para o segundo mandato, a 4 de março de 2001, ocorreu a Tragédia de Entre-os-Rios, o que determinou que as cerimónias de tomada de posse se cingissem à Assembleia da República, em respeito pelo luto nacional.[20] Até ao ano de 2001, o país viveu em relativa tranquilidade política, embora com a convocação, pela primeira vez desde 1974, de dois referendos em 1998 - um à regionalização e outro à despenalização da interrupção voluntária da gravidez, tendo vencido o 'não' em ambos.[1] Nesse ano, a crise financeira em que Portugal mergulhou passou a dominar as atenções de boa parte dos esforços das autoridades nacionais, incluindo a Presidência da República.[4] Ainda no seu primeiro mandato, em campanha para eleições presidenciais de 2001, forçou o primeiro-ministro, António Guterres, a promover a demissão do ministro da Juventude e do Desporto, Armando Vara, na sequência de irregularidades na gestão da Fundação para a Prevenção Rodoviária, criada por Armando Vara enquanto secretário de Estado da Administração Interna.[4] Esta situação fez reacender o debate em torno dos poderes constitucionalmente atribuídos ao Presidente da República.
A sua presidência viria a conhecer momentos conturbados no segundo mandato, que o levaram a tomar decisões polémicas. Exemplo disso foi a sua tomada de posição polémica e contrária à do seu próprio partido, pronunciando-se favoravelmente, sendo um reconhecido aficionado, à criação de um regime legal excecional para os espetáculos com touros de morte, em Barrancos, com base na defesa do pluralismo cultural e da compatibilização da lei com a tradição cultural da região.[21] A legislação foi aprovada a 11 de julho de 2002, com os votos a favor do PCP e da quase totalidade das bancadas do PSD e do CDS-PP e com os votos contra do seu próprio partido, o PS, bem como do BE, do PEV e de alguns deputados do PSD e do CDS-PP.[22]
Ainda em 2001, no seguimento da derrota do PS nas eleições autárquicas, quando António Guterres apresenta a sua demissão do cargo de primeiro-ministro, Sampaio decide-se, contra a vontade do então secretário-geral do PS, Eduardo Ferro Rodrigues[4], pela convocação de eleições legislativas antecipadas para 17 de março de 2002, das quais sai vencedor o Partido Social Democrata, chefiado por Durão Barroso, que forma o XV Governo Constitucional.
Em 29 de junho de 2004, na sequência do convite que lhe foi dirigido, Durão Barroso abandona o cargo para presidir à Comissão Europeia. Podendo optar entre a dissolução da Assembleia da República, a convocação de eleições ou permitir à mesma maioria parlamentar formar novo Governo, decide pela terceira opção, novamente contra a vontade do secretário-geral do PS, Eduardo Ferro Rodrigues, e indigita Pedro Santana Lopes como primeiro-ministro do XVI Governo Constitucional, tomando posse a 17 de julho de 2004.[23] A sua decisão foi contestada pelos partidos de esquerda e acabou por influenciar a decisão de demissão do então secretário-geral do Partido Socialista, Eduardo Ferro Rodrigues.
A 10 de dezembro de 2004 — contrariando aquilo que fora a sua decisão anunciada e o compromisso com o novo primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes — resolve dissolver a Assembleia da República e, bem assim, tirar o poder à maioria formada pelo PSD de Santana e o seu parceiro de coligação, o CDS-PP de Paulo Portas (também membro desse governo). Para o efeito, invocou a demissão do ministro da Juventude e do Desporto, Henrique Chaves, que acusou o primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, de falta de lealdade e de verdade, como sinal de instabilidade política da maioria governativa. Foram convocadas eleições legislativas antecipadas para 20 de fevereiro de 2005.[1]
Abriram-se assim as portas para a chegada ao poder de José Sócrates, que entretanto (em eleições internas subsequentes à demissão de Ferro Rodrigues) conquistara, em 2004, a liderança do PS contra João Soares e Manuel Alegre. Sócrates tornar-se-ia assim o primeiro primeiro-ministro socialista a governar com maioria absoluta, após derrotar, nessas legislativas de 2005, o PSD de Pedro Santana Lopes.[24]
Na cena política internacional, foi um importante contribuidor para a tomada de consciência da causa pela independência de Timor-Leste, que é aprovada em referendo, presidindo à sua independência em 2002 e visitando o país em 2006.[1] Em 1999, presidiu à transferência de soberania de Macau para a República Popular da China.[1] Em 2002, presidiu à entrada de circulação do Euro em Portugal, em substituição do escudo.[1] Em 2003, criou os encontros do Grupo de Arraiolos, que reúnem chefes de Estado de países da União Europeia sem poderes executivos.[1] Em 2004, presidiu à realização do Campeonato Europeu de Futebol em Portugal.[1]
Nova discussão sobre os poderes presidenciais surgiu quando, em 2003, aquando da realização da Cimeira das Lajes, que validou a intervenção da NATO no Iraque, invocou a sua qualidade de Comandante Supremo das Forças Armadas para impedir a participação de militares portugueses na intervenção, levando o governo, liderado por José Manuel Durão Barroso, a enviar militares da GNR para o efeito, embora reivindicando para si a condução da política externa do país.[1]
Em abril de 2006, tomou posse como membro do Conselho de Estado, na qualidade de antigo Presidente da República.[8] Em maio de 2006, foi nomeado pelo Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas Enviado Especial para a Luta contra a Tuberculose, exercendo funções até 2012. Em 26 de abril de 2007, foi nomeado Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, exercendo funções até fevereiro de 2013. Ainda em 2007, foi nomeado presidente do Conselho Consultivo da Universidade de Lisboa.[8]
Em novembro de 2013, fundou a Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios, com vista a promover a atribuição de bolsas de estudo do ensino superior a estudantes sírios deslocados da guerra civil no país.[1] Em 2016, sofreu duas hospitalizações devido a hipertensão arterial e, em 2017, sofreu uma intervenção cirúrgica por problemas de mobilidade.[1] Em 2019, por ocasião do seu 80.º aniversário, foi homenageado na sede nacional do PS, em Lisboa.[1]
No programa Os Grandes Portugueses, obteve o 80.º lugar.
Era membro da Clinton Global Initiative, do Club de Madrid e da Global Commission on Drugs Policy, bem como membro do Board of Trustees da Carnegie Corporation, de Nova Iorque, e membro do júri do Prémio Internacional Calouste Gulbenkian.[25]
Morreu no Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide, a 10 de setembro de 2021, aos 81 anos de idade, vítima de problemas respiratórios agravados pelas suas condições de saúde preexistentes[25], tendo sido declarado luto nacional, com funeral de Estado. Foi sepultado no cemitério do Alto de São João, em Lisboa, no jazigo da família, criado pelo bisavô, Marcelino Augusto Branco.[26][27][28][29]
Data | Partido | Circulo eleitoral | Posição | Cl. | Votos | % | +/- | Status | Notas | |
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1969 | CDE | Lisboa | 2.º | 114 745 | 10,3 / 100,0 |
Não eleito | ||||
1979 | PS | 4º (em 56) | 3.º | 339 032 | 25,8 / 100,0 |
Eleito | ||||
1980 | FRS | 7º (em 56) | 2.º | 370 412 | 28,1 / 100,0 |
2,3 | Eleito | |||
1985 | PS | 12º (em 56) | 4.º | 255 030 | 19,8 / 100,0 |
Eleito | Presidente do Grupo Parlamentar (1986-1988) | |||
1987 | PS | Santarém | 1º (em 12) | 2.º | 57 778 | 21,7 / 100,0 |
Eleito | |||
Líder da Oposição (1988-1992) Secretário-Geral do PS | ||||||||||
1991 | PS | Lisboa | 1º (em 50) | 2.º | 365 112 | 29,7 / 100,0 |
Eleito |
Data | Partido | Concelho | Posição | Cl. | Votos | % | +/- | Status | Notas | |
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1989 | PS-PCP-PEV-MDP/CDE | Lisboa | 1º (em 17) | 1.º | 180 635 | 49,07 / 100,00 |
Eleito | Presidente da Câmara Municipal de Lisboa | ||
1993 | PS-PCP-PEV-PSR-UDP | 1º (em 17) | 1.º | 200 822 | 56,66 / 100,00 |
7,49 | Eleito |
Data | Partidos apoiantes | 1ª Volta | 2ª Volta | Status | ||||||
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Cl. | Votos | % | +/- | Cl. | Votos | % | +/- | |||
1996 | PS PCP PEV UDP |
1.º | 3 035 056 | 53,91 / 100,00 |
Eleito | |||||
2001 | PS | 1.º | 2 411 453 | 55,76 / 100,00 |
1,85 | Eleito |
Precedido por Vítor Constâncio |
Secretário-Geral do Partido Socialista 1989 — 1992 |
Sucedido por António Guterres |
Precedido por Nuno Krus Abecasis |
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa 1990 — 1995 |
Sucedido por João Soares |
Precedido por Mário Soares |
18.º Presidente da República Portuguesa 1996 — 2006 |
Sucedido por Cavaco Silva |
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