Guilherme de Pádua | |
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Pádua em 1992 | |
Nome | Guilherme de Pádua Thomaz |
Data de nascimento | 2 de novembro de 1969 |
Local de nascimento | Belo Horizonte, Minas Gerais |
Data de morte | 6 de novembro de 2022 (53 anos) |
Local de morte | Belo Horizonte, Minas Gerais |
Nacionalidade(s) | brasileiro |
Religião | cristão |
Crime(s) | homicídio qualificado[1] |
Pena | 19 anos e 6 meses de prisão |
Situação | pena extinta em 2002[2] morto |
Esposa(s) |
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Motivo(s) | Segundo a promotoria, perda de cenas na trama enquanto Daniella ganhava destaque, além dos ciúmes doentios da então esposa[3][4] |
Afiliação(ões) | Paula Nogueira Thomaz |
Assassinatos | |
Data | 28 de dezembro de 1992 |
Localização | Barra da Tijuca, Rio de Janeiro |
Vítimas fatais | Daniella Perez |
Armas | punhal |
Guilherme de Pádua Thomaz (Belo Horizonte, 2 de novembro de 1969 — Belo Horizonte, 6 de novembro de 2022) foi um ator e posteriormente um pastor batista brasileiro. Ficou nacionalmente conhecido por sua cumplicidade no assassinato brutal da atriz Daniella Perez, sua colega de elenco e par romântico na novela De Corpo e Alma. Daniella era filha de Gloria Perez, autora da telenovela. O crime ocorreu em 28 dezembro de 1992, quando Guilherme de Pádua e sua então esposa Paula Nogueira Thomaz (atualmente Paula Nogueira Peixoto), assassinaram Daniella. A perícia apontou que Paula desferiu 18 golpes em Daniella utilizando um instrumento perfurocortante (uma tesoura segundo Pádua, um punhal segundo o autor da autópsia).[5]
Nascido em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, anos depois Guilherme deixou a cidade e mudou-se para o Rio de Janeiro, a fim de tentar a carreira artística.
Como ator, atuou no filme alemão de 1989 Via Appia como o garoto de programa José;[6] fez uma pequena participação na telenovela Mico Preto, interpretando Narciso em 1990 e, em 1992 atuou na telenovela De Corpo e Alma como o motorista de ônibus Bira, ambas da TV Globo.
Tinha 23 anos quando cometeu o crime e sua então esposa estava grávida.[7]
Em 28 de dezembro de 1992, movida por ciúmes doentios e com sua cumplicidade, a então esposa do ator, Paula Nogueira Thomaz (atualmente assina "Paula Nogueira Peixoto") desferiu 18 golpes na atriz Daniella Perez, que naquele momento já estava desacordada. Segundo a acusação, além dos ciúmes da mulher, a motivação do crime seria também profissional, pois Guilherme havia "perdido espaço" na novela (a vítima era filha da autora da novela em que atuava), e o ciúme de Paula Nogueira Thomaz em relação a atriz.
O casal emboscou Daniella em frente a um posto de gasolina, situação vista e confirmada por dois frentistas. Quando Daniella deixou o posto, Guilherme, com Paula escondida no banco de trás, fechou o carro de Daniella, que desceu do veículo. Guilherme então lhe deu um soco e forçou a atriz a entrar no carro do casal, um Volkswagen Santana. Paula então assumiu a direção, enquanto Guilherme pegou o Ford Escort da atriz, com o qual seguiu para o local do crime, na Barra da Tijuca, onde outra testemunha, um advogado, viu a cena e anotou a placa do carro de Guilherme.
Eles mataram a atriz em um matagal próximo, onde deixaram seu corpo. A Folha de S.Paulo escreveu: "O laudo cadavérico da atriz Daniella Perez indica que ela teve entre 16 e 20 ferimentos. A maioria deles estava concentrada na região mamária esquerda — sobre o coração — e o restante, no pescoço. Os ferimentos causaram uma grande hemorragia interna. O pulmão esquerdo foi perfurado e recebeu muito sangue. O coração apresentava oito perfurações e o pescoço, quatro — uma delas atingindo tecidos profundos e causando infiltração de sangue na traquéia. Além desses ferimentos, o corpo mostra também escoriações no ombro, que poderiam indicar, de acordo com o médico legista Nelson Massini, que ela tenha sido arrastada", segundo a Folha de S.Paulo.[8]
O crime teria sido motivado por inveja, cobiça e vingança, já que, segundo a acusação, Guilherme assediava Daniella em busca de uma maior participação de seu personagem na novela. Sem obter êxito em suas investidas e ao ver que seu personagem não ia aparecer em dois capítulos da novela na semana do crime, acreditou que Daniella teria contado sobre suas investidas à sua mãe, como forma de prejudicá-lo.[9] Em entrevista, Gloria Perez explicou que não diminuiu a participação de Pádua na novela para prejudicá-lo. Ela conta que, naquela semana, recebeu ordens superiores da TV Globo para não tratar de sequestro na novela, porém ela já tinha escrito capítulos sobre o tema. Em consequência, muitas cenas tiveram que ser cortadas e foi por isso que o personagem de Pádua na novela acabou sumindo por dois capítulos.[10]
Após o corpo ser encontrado e com a grande repercussão do caso na imprensa, Guilherme chegou a ir a delegacia confortar a mãe e abraçar o marido de Daniella.[11]
Na noite do assassinato, uma testemunha havia visto uma movimentação estranha no local do crime e anotou detalhes dos carros, como as placas, tendo posteriormente ligado para a polícia. No local onde o corpo foi encontrado, a polícia encontrou apenas o Escort de Daniella, mas não o outro veículo. No entanto, com os dados do outro veículo em mãos, os investigadores foram até o estúdio da TV Globo e reconheceram o carro de Pádua, que se encaixava na descrição da testemunha. Posteriormente, descobriram que o assassino alterou a placa, o que mostra a premeditação do crime.[12]
A Justiça ordenou a prisão em flagrante de Guilherme de Pádua e ele foi preso. Contudo, a prisão do ator durou poucos dias, pois o seu advogado entrou com um recurso e o juiz concedeu-lhe liberdade provisória, sob a alegação de que a prisão em flagrante tinha sido ilegal. Após sair da cadeia, Pádua desapareceu. Após alguns dias, uma nova decisão judicial decretou a prisão preventiva do ator, que passou a ser considerado foragido. O desaparecimento de Pádua causou revolta, e os atores da novela fizeram um mutirão para encontrá-lo, interfonando a esmo em prédios da zona sul do Rio de Janeiro, à procura do ator. Após alguns dias foragido, Pádua se entregou às autoridades.[13][14]
Após Pádua confessar o crime, o casal foi preso por homicídio duplamente qualificado — por motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima.[15]
Em 25 de janeiro de 1997, Guilherme e Paula foram condenados por homicídio qualificado, com motivo torpe, a 19 anos e seis meses de cadeia.[16]
Em 1995, enquanto estava preso, Pádua escreveu o livro "História que o Brasil desconhece", editado pela Escriba Editora Multimídia de Artes Gráficas. Ele pretendia lançá-lo durante a Bienal do Livro do Rio daquele ano, mas uma liminar conseguida por Glória Perez suspendeu o lançamento, tendo sido oficiado à Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais para que fizesse a apreensão dos exemplares. Glória Perez obteve então decisão judicial condenando Pádua e a editora a uma multa de 20 mil reais por cada dia em que a decisão não fosse cumprida, entre 20 de agosto de 1995 a 9 de abril de 1996. A venda do livro foi proibida porque, segundo a decisão judicial, diminuiria a imagem e a honra de Daniela. Contudo, o livro foi distribuído aos jurados pelo advogado de Gloria Perez como uma maneira de provar as injúrias e difamações que Guilherme fazia contra a vítima.[17][18]
O assassinato de Daniella mobilizou o Brasil e causou revolta na sociedade, com muitos brasileiros exigindo o endurecimento das leis penais. O Congresso brasileiro chegou a debater a pena de morte, mas o projeto não andou. Em 1993, a mãe de Daniella, a autora Gloria Perez, iniciou um movimento com vistas a tornar o homicídio qualificado crime hediondo, de modo que os condenados por esse crime passassem a ter de cumprir mais tempo de prisão para conseguir mudar para o regime aberto ou para ter a progressão de pena. Mesmo numa época em que as pessoas não tinham acesso à Internet, em apenas três meses Gloria conseguiu recolher 1,3 milhão de assinaturas para o seu projeto de lei, após percorrer programas de rádio e televisão e grandes shows de música para pedir a adesão das pessoas. Os papéis passavam de mão em mão. Em outubro de 1993, Gloria entregou as assinaturas ao Congresso Nacional. A nova lei foi aprovada em agosto de 1994 e sancionada pelo presidente Itamar Franco no mês seguinte. Todavia, a nova lei não pôde ser aplicada no caso de Daniella Perez, uma vez que o direito brasileiro não permite que uma lei mais severa retroaja para prejudicar alguém.[19][20][21][7]
Guilherme é mencionado em um capítulo do livro da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa, Mentes Perigosas: O Psicopata Mora ao Lado.
Pádua foi solto em 14 de outubro de 1999, após ficar preso por seis anos e nove meses, o que significa o cumprimento de um terço da pena.[22][16] Em entrevista, o promotor Francisco Cembranelli afirmou: "Foi um delito que ficou praticamente impune. Foi até uma pena alta (19 anos para ele e 18 anos e meio para ela), mas eles cumpriram muito pouco tempo". O promotor refere-se ao direito à progressão de regime existente na lei penal brasileira, fazendo com que o condenado não cumpra o total da pena em regime fechado.[20]
Pádua se separou de Paula Thomaz, e em março de 2006 casou-se com a produtora de moda Paula Maia, 14 anos mais nova, que ele havia conhecido na igreja que ambos frequentavam.
Em abril de 2010, Pádua foi entrevistado no Programa do Ratinho e pelo Twitter, Glória Perez afirmou que Guilherme de Pádua não era mais réu, logo, não estava mais protegido pelo direito de mentir que a lei brasileira concede a réus. Portanto, qualquer declaração mentirosa resultaria em processo. Assim, Pádua recusou-se a responder a algumas perguntas sobre o caso para não ser processado.[23][24][25]
Em junho de 2010, foi noticiado que sua mulher, Paula Maia, estaria lançando um livro contando a história do marido: "Que Amor é Esse? A história Real de Guilherme de Pádua".
Em 2012, começou a trabalhar na empresa Itaipu Vidros como Gerente de TI. Em 9 de dezembro desse mesmo ano, Guilherme foi entrevistado no programa Domingo Espetacular, no quadro "A Grande Reportagem", contando para Marcelo Rezende sua versão sobre o assassinato, versão esta que já fora modificada várias vezes. Disse nesta entrevista, por exemplo, que não bateu em Daniela depois de abordar a vítima, desmentindo as duas testemunhas oculares. "Os frentistas Flávio de Almeida Bastos e Danielson da Silva Gomes, ao deporem ontem à tarde pela primeira vez no 2.º Tribunal do Júri do Rio, confirmaram que viram o ator Guilherme de Pádua dar um soco na atriz Daniella Perez, agarrá-la pelo pescoço e colocá-la à força no carro do ator, escreveu a Folha de S.Paulo em 8 de janeiro de 1994.[26] (ver também o vídeo em Ligações externas)
Em 2014, o casamento de Guilherme e Paula Maia chegou ao fim. Ela falaria para a imprensa posteriormente, em agosto de 2015, que ele era manipulador.[27]
Guilherme de Pádua foi condenado em 29 de abril de 2016 a pagar uma indenização de 500 salários mínimos (cerca de 440 mil reais na época) à mãe, a escritora Gloria Perez, e ao marido da atriz, o ator Raul Gazolla. Além disso, Guilherme ainda teve que arcar com as despesas de sepultamento e funeral de Daniella e com os custos processuais e honorários de advogados, valor estipulado em 10% sobre a condenação.[28]
Em 14 de março de 2017, Guilherme de Pádua casou-se pela terceira vez, com a estilista Juliana Lacerda. Em dezembro de 2017, se tornou pastor na Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte.[29]
Em 24 de maio de 2020, Guilherme chamou a atenção por comparecer a uma manifestação pró-Bolsonaro com Juliana, gerando indignação de usuários no Twitter.[30][31]
Em agosto de 2022, Pádua postou um vídeo em seu canal do YouTube, pedindo perdão para a mãe de Daniella Perez, a autora Gloria Perez, e para o viúvo, o ator Raul Gazolla.[32][33] Embora muitos acreditassem em sua regeneração, outros ficaram revoltados por suspeitarem que ele não estava sendo sincero, e que só teria gravado o vídeo devido à repercussão gerada pelo lançamento de um documentário sobre a morte de Daniella na HBO Max.[34][35] Também em agosto houve rumores de que Guilherme e Juliana, sua esposa, teriam tido um encontro com o então presidente Jair Bolsonaro, pois Juliana postou uma foto com Michelle Bolsonaro, esposa do presidente; contudo tanto o presidente quanto Guilherme negaram o encontro. Nas redes sociais, Juliana afirmou que participou de uma cerimônia religiosa em que Michelle estava, momento em que entrou numa fila para conseguir tirar uma foto com a primeira-dama, afirmando ainda que Michelle Bolsonaro "nem sabia" quem ela era e que nunca tinha conversado com ela antes.[36][37][38]
Guilherme de Pádua morreu no dia 6 de novembro de 2022, aos 53 anos, em sua residência na cidade de Belo Horizonte, vítima de um infarto.[39]
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