Castor de Andrade

Castor de Andrade
Nome completo Castor Gonçalves de Andrade e Silva
Nascimento 12 de fevereiro de 1926
Rio de Janeiro
Morte 11 de abril de 1997 (71 anos)
Rio de Janeiro
Nacionalidade brasileiro(a)
Ocupação contraventor

Castor Gonçalves de Andrade e Silva (Rio de Janeiro, 12 de fevereiro de 1926 - Rio de Janeiro, 11 de abril de 1997) foi um bicheiro e cartola brasileiro.

Castor de Andrade é até hoje o mais famoso bicheiro brasileiro.[1] Era considerado um "bicheiro romântico", já que não permitia que outros negócios ilícitos, como o tráfico de drogas, fossem explorados junto com o jogo do bicho. No auge de seus negócios, Castor de Andrade contou com mais de 100 policiais e vários servidores públicos, políticos proeminentes e juízes trabalhando para ele. Em meados dos anos de 1980, foi listado como segundo Homem mais rico do Brasil.[2][3]

Como cartola, Castor esteve muito envolvido no Carnaval brasileiro e com o futebol — foi o maior patrocinador do Bangu Atlético Clube, sendo até chamado de "O dono do Bangu" (à época, o time do Bangu ficou conhecido como “o esquadrão da malandragem”), e também foi patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel. Também ajudou a fundar em 1984 a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, que comanda o Carnaval do Rio de Janeiro desde então e tem servido como capa legal para o "cartel do jogo do bicho".

Em 1993, Castor de Andrade e outros 13 grandes bicheiros foram presos. Cada um deles foi condenado a seis anos de prisão, mas Castor obteve um habeas corpus e foi solto no mesmo ano. Em março de 1994, uma operação subsequente conseguiu quebrar o reduto de Castor. Documentos revelaram os nomes de muitos policiais, políticos, juízes, servidores públicos e outras pessoas proeminentes que estavam lucrando com suas atividades ilegais. Após sua morte, em abril de 1997, os herdeiros de sua fortuna começaram a brigar entre si pela herança, o que levou ao assassinato de seu filho, Paulo de Andrade, em outubro de 1998.[3]

Biografia

Castor era filho de Eusébio de Andrade (que foi presidente do Bangu Atlético Clube entre os anos de 1963 a 1969) e Dona Carmem.

Sua paixão pelo jogo do bicho foi herdada de sua avó paterna, Dona Eurídice, que atendia aos fregueses numa casinha de sapê em Bangu.

Como jogador de futebol, Castor nunca se profissionalizou, mas foi um razoável ponta-esquerda, que na opinião de alguns[quem?] se mantinha no time pelo fato de comprar bolas e fardamentos.[carece de fontes?]

Império da contravenção

Seu pai, Eusébio de Andrade, já fizera fortuna explorando o jogo do bicho, e Castor teve uma infância despreocupada. Estudou no tradicional Colégio Pedro II, mas era um aluno relapso, que matava aulas para nadar na praia do Flamengo. Isso não o impediu de se formar em Direito pela Faculdade Nacional de Direito da UFRJ.

Castor herdou a banca de bicho de seu pai e a transformou num império. Era considerado um bicheiro romântico, que não permitia que outros negócios escusos, como o tráfico de drogas, fossem explorados juntamente ao jogo. Fez do jogo um império bilionário. Apesar da informalidade, por se tratar de algo ilícito, o jogo do bicho fez de Castor um dos homens mais ricos e poderosos do país. Estima-se que seus ganhos líquidos, em meados dos anos 90, ultrapassavam a barreira de R$ 14 milhões de reais por dia.

Castor transitou com prestígio e desembaraço pelo poder. No governo militar, diversos generais lhe dedicaram atenção especial, a ponto de um secretário de Segurança do Rio de Janeiro, o general Waldir Alves Muniz, ter recebido instrução para "evitar problemas com Castor de Andrade". E o ex-presidente João Figueiredo quebrou o cerimonial certa vez, afastando-se do grupo de autoridades que o cercava e indo pessoalmente cumprimentar o bicheiro.

Futebol e carnaval - Capa legal para o "cartel do jogo do bicho"

Castor foi presidente de honra e grande financiador do Bangu Atlético Clube, sendo o grande responsável pela conquista do título de campeão carioca de futebol de 1966 (quando seu pai, Sr. Euzébio Gonçalves de Andrade e Silva presidia o clube) e pelo vice-campeonato brasileiro de 1985, quando perdeu o campeonato para o Coritiba, que foi o campeão brasileiro após histórica decisão por pênaltis no Maracanã.

Desde a década de 1970, a maioria das grandes escolas de samba tinha um "patrono" relacionado ao jogo do bicho. Por conta disso, foi também patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel, escola de samba à qual ajudou a conquistar os títulos dos carnavais de 1979, 1985, 1990, 1991 e 1996. Mas sua participação no Carnaval não se limitava a esta escola de samba. Durante décadas colocou dinheiro na organização dos desfiles, numa época em que os demais contraventores não ousavam aparecer. Deve-se ainda a Castor a fundação da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, que surgiu de uma dissidência da Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro. Sob a liderança de Castor e de Capitão Guimarães, dez escolas de samba, financiadas por bicheiros, que eram minoria e sempre derrotadas nas deliberações da Associação, criaram a LIESA, que passou a dominar o Carnaval carioca.

Conquistas como cartola do Bangu Atlético Clube

Se não temos torcida, eu mando comprar[4]
Castor de Andrade, em uma entrevista dada à revista Placar, de 9 de dezembro de 1983.

Castor herdou a paixão pelo Bangu Atlético Clube de seu pai, Euzébio de Andrade (mais conhecido como Seu Zizinho), que foi presidente do clube entre 1963 e 1969, período em que Castor comandou o Departamento de Futebol Profissional do clube.

Neste período, o Bangu sagrou-se vice-campeão carioca nas edições de 1964, 1965 e 1967, além de campeão de 1966, o ponto alto da administração dos “Andrade e Silva”[4].

Nos anos 80, com Castor como “padrinho”, os grandes investimentos voltaram ao Bangu. Quando colocava na cabeça que queria um jogador não media esforços para fechar o negócio: “Craques são como cavalos de exposição; cada um tem o seu preço”[4].

Neste período, o clube alcançou a terceira colocação no campeonato carioca de 1983, e viveu seu melhor ano em 1985, com o segundo lugar no campeonato carioca e no Campeonato Brasileiro.[4]

Seu último grande feito como dirigente foi a conquista da Taça Rio em 1987. No ano seguinte, Castor deixou o futebol com os dedos da Justiça em seu encalço.

Em 1981, ao lado do brasão desenhado por José Vilas Boas em 1904, a camisa da equipe banguense passaria a ostentar o novo mascote do time: um castor, que simbolizava, de maneira bastante óbvia, uma homenagem ao seu grande benemérito.

Prisão

Aproveitando a atenção da mídia e da opinião pública durante o Carnaval de 1993, Castor fez um discurso de 5 minutos condenando com raiva a perseguição aos bicheiros em pleno Sambódromo.[5] Três meses depois, a juíza Denise Frossard condenou Castor e outros 13 grandes bicheiros (entre eles Capitão Guimarães, Luizinho Drummond, Antonio Petrus Kalil, vulgo Turcão, e Anísio Abraão David) a seis anos de prisão por associação criminosa. Formalmente, 53 mortes foram atribuídas ao grupo.[6] No entanto, no mesmo ano, Castor obteve um habeas corpus e foi solto, e em dezembro de 1996 o resto dos bicheiros estavam todos de volta às ruas, após concessão de liberdade condicional ou clemência.[7]

Em 30 de março de 1994, Castor sofreu um novo acidente. A Promotoria Biscaia lançou uma nova ação contra o jogo do bicho no Rio de Janeiro, estourando o reduto da Castor em Bangu e apreendendo 17 livros em dinheiro, 140 livros-caixa,[8] e 166 HDs.[9] Castor de Andrade foi um dos primeiros bicheiros que começaram a subornar policiais, e policiais de todas as forças policiais receberam dinheiro dele. Uma unidade especial do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), das forças especiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, foi utilizada durante a operação contra Castor.[10]

As investigações policiais revelaram que grandes nomes estavam lucrando com as atividades ilegais da Máfia do Bicho. Entre eles, o ex-presidente Fernando Collor de Mello, o governador do Rio Nilo Batista, o prefeito de São Paulo Paulo, Paulo Maluf, o prefeito do Rio Cesar Maia, sete empresários, três juízes, 12 deputados e sete deputados, 25 policiais e 100 policiais. De acordo com o promotor Antônio Carlos Biscaia, "o Ministério Público do Rio de Janeiro investigou seu envolvimento em mais de 130 homicídios e verificou o esquema de corrupção centralizado e liderado por Castor de Andrade [...], que registrou propinas para policiais militares e civis, servidores públicos, incluindo os do Ministério Público e do Judiciário, e até mesmo políticos conhecidos que receberam ajuda financeira para suas campanhas políticas comprometidas"[11].

Havia também suspeitas de que Castor e seu povo tinham uma parceria com o Cartel de Cali colombiano. Os resultados preliminares ligavam os bicheiros do Rio ao transporte de cocaína no Brasil e também para o exterior. Em Porto Seguro, Castor montou uma empresa de pesca que era usada para o tráfico de cocaína. Ele supostamente ajudou o mafioso siciliano Antonio Salamone a se estabelecer no Brasil. Castor lhe deu um trabalho de disfarce na Bangu Textiles, que ele possuía. Salamone tornou-se um brasileiro naturalizado por causa da influência de De Andrade.

Castor esteve foragido, mas foi reconhecido e capturado em 26 de outubro de 1994, quando visitava o Salão do Automóvel, em São Paulo, disfarçado com um bigode postiço e uma peruca preta.

Recolhido à carceragem da Polinter, fez ali uma verdadeira revolução. As celas se tornaram suítes de luxo, com ar-condicionado, lavadora de roupa, frigobar, televisão e videocassete. As festas na prisão eram constantes e movidas à champanhe e caviar. Além de comprar mordomias, o contraventor financiou a reforma das instalações e o conserto de carros de polícia. Por problemas cardíacos, obteve da Justiça o direito de cumprir sua pena em prisão domiciliar, em seu luxuoso apartamento na Avenida Atlântica. Mas saía às ruas com freqüência, sem ser incomodado.

Morte

No fim da tarde de 11 de abril de 1997, desrespeitando pela enésima vez a ordem judicial, jogava cartas na casa de um amigo, no Leblon, quando sofreu um ataque cardíaco fulminante, que o matou. Seu corpo foi velado na quadra da Mocidade. No carnaval de 1998, público e foliões presentes ao sambódromo fizeram um minuto de silêncio em sua homenagem.

Pouco antes de morrer, o chefão da contravenção carioca dividiu seu espólio em duas partes: o filho Paulo de Andrade tomaria conta do jogo do bicho, enquanto o genro Fernando Ignácio ficaria com os caça-níqueis e o videopôquer.[12]

Documentário

O documentário "Doutor Castor" foi ao ar em 2021.[13]

Causos folclóricos

Episódios envolvendo o nome de Castor, fazem mesmo parte do amplo repertório de mitos, lendas e folclores do futebol brasileiro.

Como sócio da Indústria e Metalúrgica Castor

A "Indústria e Metalúrgica Castor", em Nova Iguaçu, da qual Castor de Andrade era um dos sócios, era a principal fornecedora da Diretoria de Material de Intendência (DMI) do Exército brasileiro.

Conforme relatado em uma matéria publicada pela revista Placar, em 14 de março de 1980, Castor mostrou ser um administrador com métodos simplificados e muita sinceridade.

Certa vez, Para que a empresa não fosse afetada pela greve dos metalúrgicos, Castor falou aos seus funcionários:

Quem quiser fazer greve, muito bem. Acho justo lutar por um meio de vida melhor. Mas vou garantir o direito de quem quer trabalhar. Na minha empresa não quero piquetes.
Castor de Andrade.

Com este gesto, Castor conseguiu que, 60% dos faltosos voltassem ao trabalho já no dia seguinte. E três dias depois todos estavam em seus postos. Castor não descontou nada de ninguém e ainda gratificou os que não aderiram ao movimento.

Como cartola do Bangu Atlético Clube

Invasão de campo[4]

Na vitoriosa campanha de 1966 (onde clube sagrou-se campeão carioca), aconteceu um causo que entrou para a história do certame.

Em 26 de novembro de 1966, Bangu e América jogavam no Maracanã. Aos 27′ do segundo tempo, o árbitro Idovan Silva marcou um pênalti duvidoso em favor do América. Na cobrança, o ponteiro esquerdo Eduardo do América estabeleceu 2×2.

Revoltado, Castor invadiu o campo e com um revólver nas mãos partiu em direção ao homem do apito. A confusão foi contida pelo Major Hélio Vieira, chefe da segurança do Maracanã, que retirou Castor da roda formada por um montão de gente.

Porém, Castor permaneceu firme na beira do gramado assistindo o jogo ao lado do técnico Alfredo Gonzalez.

Invasão a um estúdio de TV[14]

Em dezembro de 1967, Castor entrou armado em um estúdio de TV. Tudo começou depois das declarações de João Saldanha sobre um possível suborno junto ao goleiro Manga do Botafogo.

Uma reportagem publicada na revista Placar pelo repórter Marcelo Rezende dá para se ter uma noção do que aconteceu:

O Saldanha pode se considerar meu inimigo, mas eu o tenho como amigo. Naquela decisão de 1967 entre Bangu e Botafogo, o Saldanha me acusou de bicheiro, contraventor e de ter comprado o goleiro Manga. Nem discuti. Peguei meus seguranças e invadimos o estúdio… Eu, com duas “máquinas” na mão… Foi um corre-corre danado. Pois bem, o Saldanha era macho mesmo e me enfrentou! Anos depois foram em cima do Saldanha. Queriam provas contra mim. Ele disse: “Castor é um homem importante no nosso futebol. Nada sei sobre sua vida particular e nada mais falarei”. Isso é o que eu chamo de dignidade!
Castor de Andrade, em reportagem à a revista Placar.
Solução para problemas de atraso[4]

Em 1981, Castor cansou das reclamações dos outros jogadores sobre os constantes atrasos de um determinado jogador. Ele, então, mandou chamar o “atrasadinho” em seu escritório.

O rapaz entrou na sala tremendo e ainda tentou justificar. Antes que pudesse terminar de falar foi surpreendido com uma solução inesperada, acompanhada de uma sonora bronca:

– Fiquei sabendo que o senhor acha normal chegar aos treinos atrasado. Passe lá na minha agência de automóveis e pegue um fusquinha. É seu. Mas se chegar atrasado de novo perde o carro e o emprego!

Coação do juiz da partida

Certa vez, Castor fez a seguinte declararação a Revista Placar: “Eu não compro juiz. Ligo pra ele e digo: você não pode errar. Nada de coação. Só um jeitinho especial”.

Referências

  1. noticias.r7.com/ Saiba quem foi Castor de Andrade, o mais poderoso dos contraventores
  2. diariodorio.com/ Polêmica: escola de samba Unidos de Bangu vai homenagear o contraventor Castor de Andrade
  3. a b g1.globo.com/ #66 Isso é Fantástico - A guerra pelo espólio do jogo do bicho
  4. a b c d e f tardesdepacaembu.wordpress.com/ Castor de Andrade… se não temos torcida eu mando comprar
  5. Miranda, Ricardo.«Impunidade na cabeca». Consultado em 9 de janeiro de 2008. Cópia arquivada em 7 de fevereiro de 2007  Parâmetro desconhecido |url-status= ignorado (ajuda) . Istoé. March 5, 2003.
  6. «Contraventores já foram condenados há 14 anos». Consultado em 17 de março de 2009. Cópia arquivada em 17 de março de 2009  Parâmetro desconhecido |url-status= ignorado (ajuda) . O Globo. April 13, 2007.
  7. Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti. "Conhecer Desconhecendo: a Etnografia do Espiritismo e do Carnaval Carioca." Pesquisas urbanas: desafios do trabalho antropológico. By Gilberto Velho and Karina Kuschinir. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. p. 130.
  8. Em Português da Escóssia, Fernanda. Os dois teriam recebido dinheiro para a campanha presidencial em 1989; os dois negam Arquivado em 2011-08-25 no Wayback Machine.. Folha de S.Paulo. April 8, 1994.
  9. Patrões do "jogo do bicho" investiam nas eleições Arquivado em 2011-08-25 no Wayback Machine.. Folha de S.Paulo. April 9, 1994.
  10. Em Português Araújo, Vera; Marco Antônio Martins. Homens do Bope fazem segurança do bicho. O Globo. July 17, 2008.
  11. Biscaia, Antônio Carlos. "A volta dos bicheiros", O Globo, March 22, 1998
  12. «Entenda a guerra da família Castor de Andrade». O Globo. Consultado em 5 de julho de 2011 
  13. https://globoplay.globo.com/v/9247968/?s=0s
  14. globoesporte.globo.com/ Histórias Incríveis: os tiros de João Saldanha que Manga não esquece

Ligações externas

Castor na mídia

Castor e o Bangu

Outras ligações


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