Caso Evandro | |
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Local do crime | Guaratuba |
Data | Abril de 1992 |
Tipo de crime | Desaparecimento de criança e assassinato |
Vítimas | Evandro Ramos Caetano |
O Caso Evandro, também conhecido como as bruxas de Guaratuba, refere-se ao suposto sequestro e assassinato do garoto Evandro Ramos Caetano, em 1992, na cidade litorânea de Guaratuba, no Paraná. O caso teve grande repercussão na imprensa nos anos 1990 e voltou a ganhar destaque após o podcast produzido pelo jornalista Ivan Mizanzuk em 2018,[1] adaptado para a televisão em série exibida pelo canal de streaming Globoplay, em maio de 2021.[2][3]
Evandro Ramos Caetano, então com 6 anos, desapareceu no dia 6 de abril de 1992. Seu corpo foi encontrado em 11 de abril, num matagal da cidade, sem vários órgãos, com mãos e pés amputados, e vísceras e coração arrancadas.[4][5]
A promotoria pública do Paraná indiciou Beatriz Cordeiro Abagge e sua mãe, Celina Abagge (então primeira dama do município), como mentoras do sequestro e morte de Evandro. A alegação fora de sequestro e utilização da criança em suposto ritual de magia negra (crime ritual)[6] para obtenção de benefícios materiais junto a espíritos satânicos.[7]
Em 23 de março de 1998, Beatriz e Celina foram julgadas pela primeira vez, em processo que é o mais longo júri da história da justiça brasileira (34 dias de julgamento). No veredito foram consideradas inocentes. Em 1999 o júri foi anulado, com novo julgamento realizado 13 anos depois, em 28 de maio de 2011.[8][9]
Outros acusados de envolvimento no suposto assassinato também foram julgados pelo crime: o pai-de-santo Osvaldo Marcineiro, o pintor Vicente de Paula Ferreira e o artesão Davi dos Santos Soares. Os três foram condenados em 2004.[10] Os outros acusados, Francisco Sérgio Cristofolini e Airton Bardelli dos Santos, foram absolvidos em 2005.[11]
Com votação apertada (quatro votos contra três), no segundo julgamento Beatriz foi condenada a 21 anos e 4 meses de prisão[12]. Em 17 de abril de 2016, o Tribunal de Justiça do Paraná concedeu perdão de pena para Beatriz Abagge.[13]
Em 2018 o Projeto Humanos, um podcast storytelling "dedicado a contar histórias reais de pessoas reais", que é produzido desde 2015 pelo jornalista e professor universitário Ivan Mizanzuk,[14][15] de Curitiba (PR), retratou o caso. Fruto de dois anos de investigação jornalística, a narrativa expos as falhas na investigação, os hiatos e as perguntas não respondidas relativas ao crime, e trouxe à tona uma nova versão: os depoimentos colhidos pela Polícia Militar do Paraná foram "arrancados" sob tortura. O podcast tornou-se um dos mais baixados do Brasil em 2019, com mais de quatro milhões de acessos.[16] Em seguida foi adaptado para uma série de TV produzida pelo Grupo Globo para o canal Globoplay, com estreia em 13 de maio de 2021.[17][18][19][2][3] Isabela Boscov chamou a série de "impecável", e disse que "se em 1992 houvesse entre os investigadores do caso alguém com a clareza, o método, a perseverança e o rigor de Ivan Mizanzuk, provavelmente a gente saberia o que aconteceu com o Evandro e com o outro menino desaparecido cinquenta dias antes em Guaratuba, o Leandro Bossi".[20]
Em 4 de janeiro de 2022, o governo do Paraná publicou um documento pedindo desculpas à Beatriz Abage pelas torturas.[21]
Defesa e Promotoria travam longo embate sobre as confissões dos acusados.
Gravações foram apresentadas alegando que os investigados foram torturados a fim de confessarem o crime.[22] Um dos responsáveis apontado pela possível tortura foi o coronel da reserva da Polícia Militar do Paraná, Valdir Copetti Neves. Entrevistado pela revista IstoÉ, Copetti declarou
"por que perguntar de tortura e circunstâncias de prisão somente para mim? Por que não se pergunta também ao Ministério Público e à Polícia Federal que estavam na investigação?".
Na época, a tese de tortura foi derrubada pelo exame de corpo delito feito com declarações das rés, porém, o modo como exame foi feito passou a ser questionado pela defesa.[7]
Mais indícios de torturas apareceram em 2020, quando o jornalista Ivan Mizanzuk conseguiu acesso a uma versão não editada da fita que contém a gravação da confissão dos acusados. As informações foram divulgadas no episódio 25 da terceira temporada do podcast "Projeto Humanos"[23] e o áudio da fita foi disponibilizado para download na enciclopédia digital do podcast.[24]
Também foram levantadas suspeitas de que o corpo enterrado no Cemitério Central de Guaratuba não seria o do menino Evandro Ramos Caetano.[22] No julgamento de 1998 as rés do caso chegaram a ser inocentadas porque o júri entendeu que não estava comprovado que o corpo era de Evandro.[16] A defesa alegava que três exames de DNA haviam sido feitos, sendo que o resultado dos dois primeiros foram "inconclusivos". Há conflitos em relação à como as amostras para o exame foram colhidas. Apenas um exame teve resultado afirmativo e conclusivo.[25] Segundo o zelador do cemitério de Guaratuba, Luiz Ferreira, o corpo não está enterrado no local qual o MP diz estar.[22] O corpo mutilado foi colocado no caixão ainda na cena do crime, sem passar pela devida perícia e logo em seguida enterrado. Nem mesmo os familiares velaram o corpo. [7]
Ao apresentar o caso em seu canal no YouTube,[26] a perita criminal Gigi Barreto chamou a atenção para a falta de cadeia de custódia com as provas do crime, do fato do desaparecimento do menino já ser tratado inicialmente como sequestro - sendo que família de Evandro não é rica, e que é preciso ver quais órgãos estavam faltando no corpo de Evandro, para assim ligar, ou não, a ritual de magia negra. A perita ainda questionou o motivo da família de Evandro ter investigado por conta própria, com comportamento inadequado do ex-investigador da Polícia Civil, Diógenes Caetano dos Santos Filho, tio do menino Evandro. Barreto também levantou a hipótese da cena do crime ter sido forjada. Sobre o fato do pai de santo ter previsto o crime, Gigi Barreto não achou incomum, já que existem casos que foram resolvidos com ajuda de médiuns.[27]
O modo como a imprensa paranaense tratou o caso, sobretudo os veículos populares e sensacionalistas, acusando sem provas os personagens investigados, foi completamente inadequado. Destaca-se que não há nenhuma prova cabal que liga o terreiro de umbanda citado nos autos com o desaparecimento morte de Evandro. Em paralelo houve uma devassa na vida dos envolvidos, em comportamento inadequado da imprensa, que remete ao Caso Escola Base.[28]
À época do desaparecimento de Evandro, com um corpo de criança sendo encontrado uma semana depois, dois aspectos chamaram a atenção da opinião especializada: a rápida investigação, sem o devido zelo pericial (conforme exposto acima), com imediato indiciamento dos envolvidos; e o fato dos investigadores e da imprensa terem relacionado o assassinato de uma criança com a umbanda, atrelando-a a suposto ritual de magia negra.
Pelo retrospecto, a condução inicial do caso foi leviana. Não há apontamentos que coloquem os investigados onde o corpo foi encontrado; nem que o corpo esteve no templo de umbanda dos citados; fora o fato de que o corpo encontrado pode não ser de Evandro; entre outros equívocos periciais, policiais, investigativos e processuais. Na mesma época, em Guaratuba, outra criança também havia desaparecido.[7]
O conteúdo apresentado do artigo da Wikipedia foi extraído em 2022-06-23 com base em https://pt.wikipedia.org/?curid=3278439