Sindika Dokolo

Sindika Dokolo
Sindika Dokolo, em Veneza, em Julho de 2007
Nascimento 16 de março de 1972
Kinshasa, Zaire
Morte 29 de outubro de 2020 (48 anos)
Dubai
Nacionalidade congolês
Progenitores Mãe: Hanne Kruse
Pai: Augustin Dokolo Sanu
Cônjuge Isabel dos Santos
Alma mater Universidade Pierre e Marie Curie
Ocupação Coleccionador de Arte
Página oficial
fondation-sindikadokolo.com

Sindika Dokolo (Kinshasa, 16 de março de 1972Dubai, 29 de outubro de 2020)[1] foi um colecionador de arte e empresário, nascido no antigo Zaire, actual República Democrática do Congo. Detinha uma das mais importantes colecções de arte contemporânea africana, com cerca de três mil obras.[2][3]

Dokolo faleceu em 29 de outubro de 2020, aos 48 anos de idade, Dubai.[1]

Família e educação

Sindika Dokolo, de pai congolês e de mãe dinamarquesa, foi criado pelos seus pais na Bélgica e na França. O seu pai, Augustin Dokolo Sanu,[4] falecido em 2001, é um self-made man, banqueiro, milionário e apaixonado pelas artes africanas;[5] a sua segunda mulher, com quem casou em 1968, é a dinamarquesa Hanne Taabbel Kruse.[6]

Sindika Dokolo frequentou o Lycée Saint-Louis-de-Gonzague em Paris, onde concluiu a formação de nível secundário, e licenciou-se em Economia, Comércio e Línguas Estrangeiras na Universidade Pierre e Marie Curie.[7]

Em 2002, casou em Luanda com Isabel dos Santos, a filha mais velha de José Eduardo dos Santos, Presidente de Angola de 1979 a 2017.[8]

Colecção de arte africana

Por iniciativa do pai, Sindika Dokolo começou aos 15 anos de idade a constituir uma colecção de obras de arte. Numa entrevista concedida à Televisão Pública de Angola, contou que os seus pais já gostavam muito de arte: a sua mãe levou-o a visitar todos os museus da Europa e o seu pai era um grande colecionador de arte clássica africana.[9]

Em 1995, decidiu voltar ao antigo Zaire para entrar nos negócios da família: um total de 17 empresas (banca, pecuária, pesca, exportação de café, imobiliário, distribuição de bens de consumo, transporte de mercadorias, impressão, seguros, mineração e venda de automóveis)[10] criadas pelo pai. Contudo, o país entrou em colapso e as empresas foram posteriormente nacionalizadas pelo Governo do Zaire, em 1986, liderado pelo antigo Chefe de Estado, Mobutu Sese Seko. Depois do falecimento do pai, em 2001, Sindika tomou em mãos os negócios da família.[4]

Em Luanda, Sindika Dokolo constituiu a Fundação Sindika Dokolo, a fim de promover as artes e festivais de cultura em Angola e noutros países. O objectivo desta fundação é o de criar um centro de arte contemporânea em Luanda, não apenas peças de arte contemporânea africana, mas o de providenciar as condições e actividades necessárias para integrar os artistas africanos nos círculos internacionais do mundo da arte.[11] Sindika sublinha que o seu envolvimento no domínio das artes não tem por objectivo ser reconhecido como um grande colecionador, mas antes "dar a conhecer ao mundo os artistas africanos".[12] A Fundação tem por principio emprestar gratuitamente as obras da colecção a qualquer museu internacional desde que, em contrapartida, esse museu apresente a mesma exposição num país africano à sua escolha.[13] Sindika Dokolo começou com exposições como o Observatorio SD (julho de 2006 - agosto de 2006) no Instituto Valenciano de Arte Moderna, em Espanha, a Trienal de Luanda (dezembro de 2006 - março de 2007), ou o Check List Luanda Pop (junho de 2007 - novembro de 2007) na Bienal de Veneza, em Itália. Quando o colecionador alemão Hans Bogatzke faleceu, o curador Fernando Alvim propôs a Sindika Dokolo que adquirisse o seu acervo de 500 peças. As peças foram compradas por um preço baixo, porque a viúva de Hans Bogatzke, embora gostasse muito do marido, não gostava da colecção e agradava-lhe a ideia de se desfazer dela e, ao mesmo tempo, saber que ela seria mostrada em África. Com o objectivo de expor ao público africano a produção de arte contemporânea, Sindika Dokolo levou a sua colecção até Luanda, em eventos regulares. Em 25 de janeiro de 2010, realizou uma exposição de grande envergadura, denominada Luanda Suave e Frenética, por ocasião do 434º aniversário da cidade de Luanda.[14]

Em dezembro de 2013, Sindika Dokolo marcou presença na inauguração da VII Bienal de São Tomé e Príncipe, exposição internacional de arte daquele país, na qual foram expostas obras da Fundação Sindika Dokolo.[15] Em entrevista ao português Jornal de Negócios, o colecionador falou sobre a sua colecção, defendendo que "a mais-valia da cena artística africana contemporânea é a de dar uma perspectiva sensível e inteligente de um continente em plena mutação". Na mesma entrevista, salientou que, em termos demográficos, em 2050 existirão 25% mais africanos que chineses e, no plano económico, assiste-se a um "crescimento estrutural do continente africano", aspectos estes que vão no seu entender projectar o continente africano no futuro.[16]

Em 2014, Sindika Dokolo participou na maior feira mundial de arte africana, a "1:54", que decorreu em Londres entre os dias 16 e 19 de outubro, e que contou com a participação de diversas personalidades, entre as quais Lupita Nyong'o.[17] Neste evento foram vários os artistas e celebridades, como a modelo Alek Wek ou o cantor Keziah Jones, que manifestaram publicamente o seu apoio e agradecimento pelo trabalho do colecionador, destacando o papel que a Fundação Sindika Dokolo tem desempenhado no desenvolvimento da arte contemporânea africana. À margem desta participação, Sindika Dokolo, em entrevista à New African Magazine,[18] falou sobre os projectos para Angola e a forma como "a arte contemporânea africana deve estar acessível aos africanos e ter impacto nas suas vidas".[19]

Em março de 2015, Sindika Dokolo foi distinguido com a Medalha de Mérito pela Câmara Municipal do Porto, a propósito da exposição de arte contemporânea You Love Me, You Love Me Not.[20][21] Esta homenagem é o reconhecimento da cidade pelo contributo de Sindika Dokolo, que permite à cidade do Porto desenvolver um dos projectos mais relevantes no âmbito da arte contemporânea da actualidade, ajudando a estabelecer uma ponte singular entre a cidade e o mundo.[22] A exposição contou com obras do acervo do colecionador de arte e reúne meia centena de artistas (nem todos africanos).[23][13] Trata-se da mais importante mostra da colecção da Fundação Sindika Dokolo alguma vez concretizada e é considerada a maior colecção de arte africana existente.[24][25]

Em janeiro de 2016, a Fundação Sindika Dokolo reforçou a sua ligação a Portugal,[26] ao escolher a cidade do Porto para estabelecer a sua sede para a Europa.[27] Situada no edifício da Casa Manoel de Oliveira, a nova sede da Fundação será um espaço que pretende "promover redes de reflexão artística e fortalecer laços entre Portugal e Angola, a Europa e África, numa ode à Arte enquanto elemento unificador de povos e países", afirmou à data o Presidente da Fundação, Sindika Dokolo.[28][29] Sindika Dokolo lançou uma campanha mundial para devolver, a África, as peças de arte vendidas ilegalmente durante o período colonial.[30][31] Para começar, a Fundação Sindika Dokolo entregou a Angola duas máscaras e uma estatueta do povo Tchokwe, que tinham sido saqueadas durante o conflito armado, recuperadas após vários anos de negociação com colecionadores europeus.[32][33]

Negócios

Sindika Dokolo teve negócios de vulto na República Democrática do Congo, mas foi em Angola que teve a sua principal base de negócios.[34] Foi membro do conselho de administração da empresa cimenteira angolana Nova Cimangola,[35] e também da portuguesa Amorim Energia.[36] Em entrevista ao português Jornal de Negócios, Sindika Dokolo afirmou que costumava visitar com frequência as províncias de Angola: "Vou muito às províncias e constato os efeitos positivos das políticas de encorajamento e dinamização da produção local e da criação de infra-estruturas".[34] Relativamente à situação económica de Angola, Sindika Dokolo afirmou que esta teve um lado muito positivo, porque revelou ao governo angolano "problemas estruturais da economia".[37] "É uma sorte para Angola ter um governo que tem experiência na gestão de crises", justificou o empresário.[38] Para além do futuro de Angola, Sindika Dokolo falou ainda dos negócios de Isabel dos Santos e defende a "visão estratégica, rigor e disciplina extrema que ela coloca no trabalho".[34] O empresário Sindika Dokolo sublinhou a confiança que Isabel dos Santos tem vindo a criar no sector da banca, e o número de postos de trabalho que têm sido criados em Portugal e Angola, com base nos seus investimentos.[38] Por essa razão, Sindika Dokolo afirmou que a sua mulher devia ser tratada com menos "preconceito" e mais "objectividade". O colecionador de arte invistiu em vários sectores, nomeadamente diamantes, petróleo, imobiliário e telecomunicações, em Angola, Portugal, Suíça, Reino Unido e Moçambique. Em entrevista à Jeune Afrique, declarou ainda que não tem como objectivo "construir um grande grupo integrado", mas sim ter a oportunidade de ver "Angola e República Democrática do Congo como um conjunto complementar""um eixo Luanda-Kinshasa que poderia criar um contrapeso para a supremacia sul-africana".[39]

Referências

  1. a b «Sindika Dokolo, husband of Africa's richest woman, Isabel Dos Santos is dead» (em inglês). AB-TC. 29 de outubro de 2020. Consultado em 29 de outubro de 2020 
  2. Sara Ferreira (24 de fevereiro de 2015). «Cultura: Sindika Dokolo apresenta a maior coleção de arte africana no Porto». JPN. Consultado em 15 de abril de 2016 
  3. «You Love Me, You Love Me Not - Arte contemporânea na coleção Sindika Dokolo, 5 Mar a 10 Mai, Porto». Arte Capital. 3 de fevereiro de 2015. Consultado em 15 de abril de 2016 
  4. a b «Biografia - Augustin Dokolo, um empreendedor africano» (em inglês). A Família Dokolo. Consultado em 20 de abril de 2016 
  5. «A colecção de arte africana» (em inglês). A Família Dokolo. Consultado em 20 de abril de 2016 
  6. «A Família - Hanne Dokolo» (em inglês). A Família Dokolo. Consultado em 20 de abril de 2016 
  7. «A Família - Sindika Dokolo» (em inglês). A Família Dokolo. Consultado em 20 de abril de 2016 
  8. «Primogénita de Dos Santos casa-se hoje». Nexus. 19 de dezembro de 2002. Consultado em 20 de abril de 2016. Arquivado do original em 2 de abril de 2015 
  9. Ana Marcela (24 de julho de 2013). «Isabel dos Santos é "autoconfiança, estabilidade e ambição", diz o marido». Dinheiro Vivo. Consultado em 20 de abril de 2016 
  10. «Empresas - Uma forte visão empreendedora» (em inglês). A Família Dokolo. Consultado em 20 de abril de 2016 
  11. «Apresentação». Fundação Sindika Dokolo. Consultado em 20 de abril de 2016 
  12. Agência Lusa (30 de novembro de 2013). «Colecionador angolano convida autoridades são-tomenses para a próxima Bienal de Luanda». Sapo. Consultado em 20 de abril de 2016. Arquivado do original em 7 de dezembro de 2013 
  13. a b Luís Miguel Queirós e José Marmeleira (8 de março de 2015). «"Num continente como África, a arte é necessariamente política"». Público. Consultado em 10 de janeiro de 2017 
  14. Francisco Pedro (24 de janeiro de 2010). «"Luanda Suave e Frenética" da Fundação Sindika Dokolo». Jornal de Angola. Consultado em 10 de janeiro de 2017 
  15. «VII Bienal Internacional de Arte e Cultura de São Tomé e Príncipe abriu ao publico». Panapress. 1 de dezembro de 2013. Consultado em 20 de abril de 2016 
  16. Celso Filipe (3 de dezembro de 2013). «Sindika Dokolo: "Reduzir a imagem de Angola à corrupção é uma manipulação desonesta"». Negócios. Consultado em 20 de abril de 2016 
  17. Kate Thomas (19 de outubro de 2014). «Hollywood muse Lupita Nyong'o stuns in silk LBD as she leads the glamour at charity art dinner in London» (em inglês). Daily Mail. Consultado em 16 de novembro de 2014 
  18. Osei Bonsu (27 de outubro de 2014). «1:54 Forum: Sindika Dokolo in conversation with Osei Bonsu» (em inglês). New African. Consultado em 16 de novembro de 2014. Arquivado do original em 8 de novembro de 2014 
  19. «Fundação Sindika Dokolo tem como prioridade o mercado angolano». Briefing Angola. 13 de novembro de 2014. Consultado em 16 de novembro de 2014. Arquivado do original em 29 de novembro de 2014 
  20. Jomo Fortunato (2 de março de 2015). «Medalha de mérito para Sindika Dokolo». Jornal de Angola. Consultado em 20 de abril de 2016 
  21. Jomo Fortunato (9 de março de 2015). «Medalha de Mérito distingue coleccionador de arte». Jornal de Angola. Consultado em 20 de abril de 2016 
  22. «Sindika Dokolo recebe Medalha de Mérito da cidade do Porto». Briefing Angola. 11 de março de 2015. Consultado em 20 de abril de 2016. Arquivado do original em 16 de março de 2016 
  23. Lina Santos (6 de março de 2015). «"É uma coleção africana de arte, não é uma coleção de arte africana"». Diário de Notícias. Consultado em 20 de abril de 2016 
  24. Mariana Pereira (23 de fevereiro de 2015). «Sindika Dokolo leva a maior coleção de arte africana ao Porto». Diário de Notícias. Consultado em 20 de abril de 2016 
  25. «Exposição de arte contemporânea». Porto.pt. 4 de março de 2015. Consultado em 20 de abril de 2016 
  26. «Fundação Sindika Dokolo cria hub para a Europa na cidade do Porto». África Today. 19 de janeiro de 2016. Consultado em 27 de janeiro de 2016. Arquivado do original em 15 de fevereiro de 2017 
  27. Patrícia Carvalho (18 de janeiro de 2016). «Casa Manoel de Oliveira vai ser a sede da Fundação Sindika Dokolo na Europa». Público. Consultado em 27 de janeiro de 2016 
  28. Celso Filipe (18 de janeiro de 2016). «Sindika Dokolo comprou casa Manoel de Oliveira». Negócios. Consultado em 27 de janeiro de 2016 
  29. «Sindika Dokolo comprou casa Manoel de Oliveira». Dinheiro Vivo. 18 de janeiro de 2016. Consultado em 27 de janeiro de 2016 
  30. Raphael Minder (9 de julho de 2015). «Colecionador de Arte luta pela arte africana». The New York Times. Consultado em 20 de abril 2016 
  31. Agência Lusa (4 de fevereiro de 2016). «Fundação de Sindika Dokolo devolve a Angola peças chokwe com quase 200 anos». Público. Consultado em 20 de abril 2016 
  32. Agência Lusa (5 de fevereiro de 2016). «Fundação Sindika Dokolo devolve peças de arte Tchokwe». Rede Angola. Consultado em 20 de abril 2016 
  33. Agência Lusa (4 de fevereiro de 2016). «Fundação de Sindika Dokolo devolve a Angola peças do povo Tchokwe com quase duzentos anos». Ver Angola. Consultado em 20 de abril 2016 
  34. a b c Celso Filipe (23 de fevereiro de 2016). «Sindika Dokolo: "A Isabel dos Santos devia ser tratada com menos preconceito"». Negócios. Consultado em 23 de fevereiro de 2016 
  35. Isabel Dalla (11 de junho de 2015). «Sindika Dokolo: Angola pode ser uma potência regional do cimento». Exame Angola. Consultado em 20 de abril de 2016. Arquivado do original em 26 de abril de 2016 
  36. Luís Villalobos (28 de abril de 2008). «Marido de Isabel dos Santos na administração da Amorim Energia». Público. Consultado em 20 de abril de 2016 
  37. Celso Filipe (23 de fevereiro de 2016). «Sindika Dokolo: "Esta crise do petróleo teve um lado muito positivo para Angola"». Negócios. Consultado em 23 de fevereiro de 2016 
  38. a b Fábio Monteiro (23 de fevereiro de 2016). «Sindika Dokolo: Isabel dos Santos devia ser tratada com menos "preconceito" e mais "objetividade"». Expresso. Consultado em 23 de fevereiro de 2016 
  39. «Sindika Dokolo: "A Isabel dos Santos devia ser tratada com menos preconceito"». Portal de Angola. 23 de fevereiro de 2016. Consultado em 23 de fevereiro de 2016 

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