Juliano Moreira

Juliano Moreira
Nascimento 6 de janeiro de 1872
Salvador, Província da Bahia
Morte 2 de maio de 1933 (60 anos)
Petrópolis, Rio de Janeiro
Nacionalidade brasileiro
Cidadania Brasil
Etnia Afro-brasileiro
Ocupação médico
Causa da morte Tuberculose
Campo(s) Medicina
Tese Sífilis maligna precoce (1891)

Juliano Moreira (Salvador, 6 de janeiro de 1872[1][2]Petrópolis,[3] 2 de maio de 1933) foi um médico psiquiatra brasileiro, frequentemente considerado como o fundador da disciplina psiquiátrica e da psicanálise no Brasil pelos avanços por ele promovidos. Moreira foi o primeiro professor universitário brasileiro a citar e incorporar a teoria psicanalítica no ensino da medicina.

Biografia

Nascido em Salvador, Juliano era negro e pobre, filho de Galdina Joaquina do Amaral, que trabalhava na residência de Luís Adriano Alves de Lima Gordilho, Barão de Itapuã. Somente após a morte de sua mãe, quando Juliano tinha 13 anos de idade, é que ele foi perfilhado por Manoel do Carmo Moreira Júnior, português, inspetor de iluminação pública.[3][1] Graças ao apoio do Barão de Itapuã, seu padrinho, que era médico e professor da Faculdade de Medicina da Bahia, Juliano Moreira faz os cursos preparatórios e ingressa no curso de medicina, em 1886.[4] Formou-se em 1891, aos 19 anos, com a tese Sífilis maligna precoce. ..."Adentrei-me na Faculdade de Medicina da Bahia, em Salvador, com menos de 15 anos de idade, conforme era possível na época, doutorando-me aos 22 janeiros". Em 1896, fez o concurso para lente substituto da 12ª seção - cadeira de moléstias nervosas e mentais -, com a tese sobre as Discinesias arsenicais e foi aprovado em primeiro lugar, com nota máxima. Nesse momento, passou a figurar entre os redatores da Gazeta Médica da Bahia, que tinha Braz do Amaral como redator-gerente e José Francisco de Silva Lima como redator principal.[5] De 1895 a 1902, realizou cursos e estágios sobre doenças mentais e visitou muitos asilos na Alemanha, Inglaterra, França, Itália e Escócia.[6] Mas, além de viagens de estudos, já era obrigado a procurar com frequência especialistas e clínicas para consultas sobre sua própria doença. Juliano Moreira sofria de tuberculose. Acentuando-se as crises, obtém uma nova licença e viaja para a Europa em busca de melhor tratamento e posteriormente interna-se num sanatório na cidade do Cairo, onde conhece Augusta Peick, enfermeira alemã, de Hamburgo. Os dois se casaram no início da década de 1910 e vieram juntos para o Brasil.[3][7]

Já em 1900 representa o Brasil em congressos internacionais: em Paris, neste ano - sendo também eleito Presidente Honorário do 4º Congresso Internacional de Assistência a Alienados, em Berlim; também seria congressista brasileiro em Lisboa (1906), Milão e Amsterdã (1907), Londres e Bruxelas (1913).

Juliano Moreira mais jovem.

Permaneceu na Faculdade de Medicina da Bahia, até 1902. Em 1903, após ter exercido a clínica psiquiátrica na Bahia, mudou-se para o Rio de Janeiro. Lá, entre 1903 e 1930, dirigiu o Hospício Nacional de Alienados e, embora não fosse professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, recebia internos para o ensino de psiquiatria - dentre os quais, Fernandes Figueira (1863 - 1928),[8]Franco da Rocha (1864 - 1933), Miguel Pereira (1871 - 1918), Afrânio Peixoto (1876 - 1947), Antônio Austregésilo (1876 - 1960), Henrique Roxo (1877 - 1969), Ulysses Vianna (1880-1935),[9] Gustavo Riedel (1887-1934)[10] e Heitor Carrilho (1890 - 1954). Muitos deles viriam a atuar, também de forma pioneira, na organização de diversas especialidades médicas, no Brasil, tais como neurologia, psiquiatria, clínica médica, patologia clínica, anatomia patológica, pediatria e medicina legal.

Durante seu trabalho como diretor do Hospício Nacional dos Alienados, no Rio de Janeiro, humanizou o tratamento e acabou com o aprisionamento dos pacientes. Foi neste período, que o hospital recebeu o líder da Revolta da Chibata, João Cândido, para tratamento de uma "psicose de exaustão". Em 18 de abril de 1911, o "Almirante Negro", que cumpria pena na Ilha das Cobras, foi transferido para o Hospital dos Alienados, por ter sido considerado doente mental. Ali, ele permaneceu durante dois meses conseguindo passar relativamente bem, fazendo amizade com alguns enfermeiros e conseguindo, inclusive, que fizessem vista grossa para alguns passeios pela cidade. Ao final de dois meses, sem justificativa plausível para sua permanência no hospital, João Cândido foi levado de volta ao presídio da Ilha das Cobras.[11]

Defendeu a ideia de que a origem das doenças mentais se devia a fatores físicos e situacionais, como a falta de higiene e falta de acesso à educação, contrariando o pensamento racista em voga no meio acadêmico, que atribuía os problemas psicológicos da população brasileira à miscigenação. Destacou-se também na área da dermatologia. Foi o primeiro pesquisador a identificar a leishmaniose cutâneo-mucosa e buscou provar que a questão racial não motivava as doenças. Explorou a sifilografia e a parasitologia.[4]

Apesar de avesso ao racismo científico, Moreira também aceitava certos aspectos do pensamento eugênico, por exemplo propunha que fosse afastada dos alienados, delinquentes, degenerados e alcoólatras a possibilidade de reprodução, através da prescrição da esterilização destes.[12]

Participou da Escola Tropicalista da Bahia e contribuiu por uma década com o conteúdo da Revista Gazeta Médica da Bahia, da qual era redator principal. Em 1894 fundou a Sociedade de Medicina e Cirurgia da Bahia e da Sociedade de Medicina Legal da Bahia. Como diretor no Hospício Nacional dos Alienados (1903-1930), no Rio de Janeiro, mudou a estrutura física do hospital e estabeleceu novos modelos assistenciais no interior dos hospícios. Criou laboratórios dentro dos hospitais e introduziu a técnica de punção lombar e do exame céfalo-raquidiano como diagnóstico neurológico (1906). Criou o Manicômio Judiciário, em 1911.

Foi membro da Diretoria da Academia Brasileira de Ciências entre 1917 e 1929, tendo ocupado o cargo de Presidente no último triênio. Foi também membro de diversas sociedades médicas em todo o mundo. Dentre as instituições internacionais das quais fez parte, incluem-se a Anthropologische Gesellschaft (Munique), a Societé de Medicine (Paris) e a Medico-legal Society (Nova York).

Juliano Moreira no livro Baianos Ilustres, de 1945.

Em novembro de 1930, o novo presidente – Getúlio Vargas – dissolve o Congresso Nacional, as câmaras e as assembleias estaduais. Nomeia interventores nos Estados, mantendo seus compromissos com as oligarquias dissidentes. Em 8 de dezembro de 1930, Juliano Moreira é destituído da direção do Hospital Nacional de Alienados, onde também morava. Aposentado, foi morar num hotel em Santa Teresa. Mantinha suas visitas a alguns de seus pacientes particulares no Sanatório Botafogo, de Ulysses Vianna, ou as sessões da Sociedade Brasileira de Neurologia, Psiquiatria e Medicina. Em 17 de novembro de 1932, retornaria pela última vez à Sociedade que fundara, para uma sessão solene.[13]

Morte

A tuberculose avançava. Miguel Couto, seu médico, decide encaminhá-lo para a Serra de Petrópolis. Hospeda-se na residência de Hermelindo Lopes Rodrigues, um dos seus maiores discípulos. Faleceu em 2 de maio de 1933, no Sanatório de Correias, na cidade de Petrópolis, onde se internara para tratamento de tuberculose. Não deixou filhos.

Legado

Juliano Moreira revolucionou as concepções e métodos da psiquiatria no Brasil, notadamente no tocante à atenção às pessoas com problemas mentais. Entre seus legados incluem-se a formulação de propostas e novos modelos assistenciais psiquiátricos (1903); a aprovação da lei de assistência aos alienados em 22 de dezembro de 1903; a fundação da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Ciências Afins (1905). No campo da antropologia, Juliano deixa um legado de combate ao racismo científico, por seu papel na refutação da crença de que as doenças mentais estariam ligadas à cor da pele das pessoas.[4]

Referências

  1. a b Juliano Moreira: modernidade e civilização na Primeira República Brasileira. Por Iara Nancy A. Rios. Bahia com Histórianº 3, março de 2016. ISSN 2525-295X
  2. Segundo algumas fontes, o ano de nascimento seria 1873.
  3. a b c Biografia Juliano Moreira 1872-1902.
  4. a b c Brazil, T.K. (org.), Santana-Junior, E. F., Casais-e-Silva, L. L. Projeto Herois da Saúde na Bahia. Juliano Moreira 1872- 1933
  5. Juliano Moreira e a Gazeta Medica da Bahia. Por Ronaldo Ribeiro JacobinaI e Ester Aida Gelman. História, Ciências, Saúde-Manguinhos',' vol.15 nº 4. Rio de Janeiro, outubro-dezembro de 2008. ISSN 1678-4758
  6. Juliano Moreira: um psiquiatra negro frente ao racismo científico. Por Ana Maria Galdini Raimundo Oda e Paulo Dalgalarrondo. Revista Brasileira de Psiquiatria, vol. 22 nº 4. São Paulo, dezembro de 2000. ISSN 1809-452X
  7. Santos, Raquel Pinheiro dos. Manoel Bomfim e Juliano Moreira: Aproximações e oposições ao racismo científico na Primeira República. São Gonçalo: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2014, p. 99.
  8. Antônio Fernandes Figueira. Fiocruz. Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz.
  9. Debates sobre assistência psiquiátrica na Sociedade Brasileira de Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal. Por Ede C. Bispo Cerqueira. Anais do XVI Encontro Regional de História da Anpuh - Rio. Rio de Janeiro, 2014.
  10. Gustavo Kohler Riedel (1887-1934). Por Walmor J. Piccinini. História da Psiquiatria. Vol.13, nº 2, fevereiro de 2008.
  11. João Cândido (Rio Pardo, RS, 1880 – Rio de Janeiro, RJ, 1969). Museu Afro Brasil.
  12. «Silva, Daniela Roselen Galetti da. «A LOUCURA VISTA SOB A ÓTICA DA EUGENIA». UEM. VIII Congresso internacional de história: 1» (PDF) 
  13. Juliano Moreira. Geledés, 21 de julho de 2009.

Ligações externas

Precedido por
Henrique Charles Morize
Presidente da Academia Brasileira de Ciências
1926 — 1929
Sucedido por
Miguel Osório de Almeida

Em formação

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